19.9.09

Mortalha

Pintura do autor.


Veias abertas, esta manhã
pois que uma transfusão de sangue, apenas,
é o suficiente
para o seu caso.
Alimentar tuas todas células
com outro manjar

dormir a sesta
ao som diletante e heróico
dos ponteiros,
um ferruginoso entardecer
Basta,
para você.

Veias abertas
e caixa aberta
que uma nova alma vem tentar
No lugar da sua;
as minhas veias são os caminhos
para dentro de mim.
É uma sensação frugal,
ao som de um pince-nez quebrando
Abre-se-te a caixa torácica
Ao mesmo som diletante do meio-dia

E sentes como se estivesses pondo
Teu verbo para dormir.



(Poema do livreto "Iuri Gagarin", lançado em 2008)

Um comentário:

Victor Meira disse...

Os últimos versos são fatais, nessa pira narcótica de viagens ao âmago.

Gosto muito, Isaac.