16.9.10

Alguma medida: Televisão animada

Desejaria medir rapidinho neste texto, na metade da quadra dos escritores, dia 15, e a uma outra metade de mês das eleições, além do pau e um ponto pra descanso no programa, ufa, um campinho de reflexão desfiado acerca da televisão brasileira e seus conteúdos mais sérios, ups, braguilha, justamente nessa fase de horários políticos eleitorais e muito, muito gratuitos, que sei, eu, se é sem mostrar antes. Só fala, daminha. Deu tempo! Ali é sério, junte-se a isso. Pois bem, vamos então. Literatura é desejo. Toque. Foda. Arrombo. Jaulinha, jaulinha, te segura. Janelona cultural, grátis. Atire-se na vida. Afinal a televisão mesma não é só um poste em que se podem pendurar coisas nessa hora.

Estamos vivendo, ou melhor presenciando, a era das alianças; via tv, principalmente. Nada de pau. Nem um fininho entra, a estragar furando esse bolo salivar. Não é no dedão que se metem as alianças, pomba! Borrar as mãos à toa. Arriscar. O que é isso ou deixa de ser vou tentar me expressar sem desarmar. Celebrar personalisticamente mais esse encontro. Televisão vagina: E levar a programada em algum lugar em que se possa assistir de um cantinho, a custo um assovio, no que mela rasga a tela, mudo/crítica/mente. Sexo em grande conteúdo é baixaria pode crer, mas faz bem no fim das contas, sem tempo pra finais de semana. Desfamiliar, as partes frias, com assaltos à geladeira, que é quase uma segunda popularidade em móvel de casa de gente nossa longe de ser nobre. Aliança sem vontade é que não dá pra aturar, seja dia, tarde, noite ou madrugada. Fica quase galeria, como soa estar em situação. Reunir um dia de verdade só se por verdade. Pensar e transar descompromissado mesmo.

Na televisão brasileira é praxe cada dia mais as bem ensaiadas ligações pacíficas entre os fortes, e que se diga, as pessoas supostamente e de imprensa mais bem aparecidas e prestigiadas seja pelo que for que façam ou não façam, gente pratzo de revista, por estar repetindo na televisão: artistas, personagens de centro, famílias influentes, emergentes, dominantes, industriais, poodles, beagles, dobermanns amestrados, papagaios, políticos, claro, os políticos, e a fé-etc, de bem todos encaixados num ornamento social de classes visível ou ocultamente estas bem isoladas umas das outras, irresistível não padecer até se parecer, que desabe mas num piso de ladrilho hidráulico pela décima quinta vez raspado. Assim, fazendo parties dos mencionados: paz, sãnti. No que referir aparelhos fortes, empresas concorrentes, companhias políticas mandatárias, pais e mães separados de alguém, donos disso e daquilo, juntos na tv: alianças para um clic, aparência virgem total. Cadillacs. Os artistas e famosos nem se fala: faça já as pazes com seu pai pois sua carreira pode ficar comprometida, ouviu? Carreira? Poso nua, única maneira até agora de me descobrir em si. Sem gozar, encantado, gracias, mucho gusto.

Hoje, como todos os candidatos a qualquer coisa no Brasil adentro já parecem quase alianças em potencial (vide aqui nessa Salinha eletrônica o Titio Petezão pegando, e deu um fora nisso!), em que eles aparecem nos programas eleitorais medindo competência e seriedade próprias, vemos também que, na televisão brasileira aberta, os programas que se inspirariam alguma reflexão e soltura crítica por seus conteúdos, a partir de um contraponto ou contragosto sugerido nos pontos de vista discordantes, seriam, e se fossem, grosso modo, os de bate-bocas e polêmicas em geral; seriam só os programas que atingem os mais pobres, os programas vespertinos de doer, os freak-show a qualquer hora e, pelos horários mesmo, seria de fato, a torto e a direito pelos que mandam na TV no Brasil, questão pura de classe, colocar pobre contra pobre, a começar pelos modos, quem dá mais por isso?, vote!, sem revolte, puxando os pelos e os grampos arrancados dos cabelos no Brasil. E se isso, né, Zuzinha: de aparecer sério, de gerar reflexão. De doer muito mais nos mais pobres do Brasil, que se submetem enquanto cobaias, auditório ou audiência – psicologicamente mas em graus diferentes a mesma experiência de exibição de uma vida modelável, famílias restando ali constrangidas e expondo intimidades e desavenças aumentadas redondamente pela tv a seco, intimidando-se, acusando-se, repetindo anos, quase sempre não se desculpando –, do que de doer a cabeça e com ela a consciência de alguém, quem quer que seja assim, forte, alto e bom som, tenha o risco de rasura numa classe. Assim é a vida dura, enquanto que por outro lado, publicamente e pra tv – sem necessitar ser a de plasma – como nas demais mídias de apresentação social, a moral predominante das classes altas, famosas e dominantes, de algum sucesso interessantemente exibível, os mais ricos, é o amistoso; pareceria a de todos ficarem de acordo, amizadezinhas, enfim, se não acreditarem, já que nem todos são bobos, vejam apenas, sim, provem à distância, o vestido e o termostatus educado e alinhado da tranquila e pacífica felicidade, ups, ufa! O mundo dos artistas. O tudo igual das colas e das músicas pro vídeo. Enfim ainda dizem que o mundo programado e reprogramado dos bastidores industriais a toda hora é o mais competitivo e violento. Quem usa, mente. E é mais ou menos isso, que se o PT não ensina em aulas de boas maneiras, ao menos colabora para o choque de classes no palco social, inspirando, o jeito padrinho lula de ser, dando exemplo, e todos os que seguem agora a maneira de governar ou ao menos ficar de bem com o governo, tipo a classe dominante e a televisão mandante, silêncio, sorrisos, vamos gravar. Para os mais pesados: um desenglobado cala a boca. Agora o comercial político...

A Lúcia Leme do programa Espaço Público da finada TVE, emissora melhorzinha que deu forçosa mas elegante vez à TV Brasil, pública e órgão do governo federal, tiraram-na do ar, pois ali se discutia a sério algumas causas, com grandes nomes do pensamento livre, intelectuais, pensadores de respeito, onde se batia boca de fato, metendo empresas, figuras eminentes, ongs, açougues de hipermercados, funções, partidos e instituições em questão, e que poderiam sair estas últimas fraturadas e comprometidas, ou lendo, na corda bamba do a se pensar mais uma vez na coisa. Dizem mesmo que a apresentadora desses debates na tv pediu, já a beira da mudança na emissora, limpando os caroços públicos entre os poderes, que um comentarista não pegasse tão pesado ao comentar negativamente o governo petista, pois ela iria parar no olho da rua e tal, editado que ficou, claro. O programa ventilava e era razoavelmente assistido. Rodou. Bem, já a pessoa pobre, mesmo a petista, não: esta sem classe nem emergência nisso pode ser mantida em canal aberto de diálogos grosseiros, popularíssimos nos anos lula, para ainda tomar pontapés no traseiro de uma qualquer madaminha, sem falo, apresentadora de classe acima da delas, dando lição, ou só mesmo a lição da própria vida que se as ergueu e coagulou o asco, se assim se apresentam: desses mal educados eu nunca mais faço parte, o bom é rir, caso não dar uma esculachada, um escracha, etc, que são várias delas e seus depoimentos, seus murros, mulheres, minem...

Programas de Polícia na Tv brasileira, o tempo todo, nem se debate mais; aliam-se: juízes de plantão, juízes de fato, líderes, delegados, diretores, secretários, candidatos, etc, pra cima do povo, pegando pra bicho o menos do que eles, juntos, unindo forças oficiais, prendendo e punindo gente pobre, chamando de atitudes condenáveis e vagabundos pelo que fizeram ou fariam, pelas lentes e holofotes coloridos, com creme no cabelo, fazendo justiça de um só lado na moeda da alvorada: the party: o lado que pode ficar de dentro do aquário da mídia rebolando condições de união fraterna pra cima das classes em jaula, estas em lotes e mais lotações de briga, na base da vida real, desligadas dos bastidores poluídos do aparelhamento, cujo sem sexo, ar frio. Então são 15 rebolationflexão pra pagar. Rebolationfrexãos aí nesse campo, a meia quadra. Pra frente, meninos.


Rod Britto - 15 de setembro de 2010 - Rio de Janeiro.

9 comentários:

Ricardo Matos disse...

A televisão definitivamente não é poste que democraticamente esteja sujeito à uma lambida do cartaz mais underground e inesperado, descontrolado; anúncio de cartomante sem CNPJ; pixe - que tem até inspiração nas runas anglo-saxônicas, li por aí, nem sabia, que lapso meu! -; talvez utiliza-lo como varal, sempre usa-lo como apoio nos dias mais exaustivos e oficialmente para pendurar o copinho e os resultados do bicho.

Essa falta de polaridades, essas tentativas de sanar as contradições das formas mais patéticas não são, certamente, uma conspiração das emissoras, nem a tv é uma janela que nos traz a realidade, mas simplesmente vão se acotovelando para entrar na fina tela de plasma os aliados, os futuros reconciliados, os casais fraudulentos. São 24 horas de programação sem direito às antigas raias coloridas ao som do piiiiiiiiiiiiii. Também não é permitida aquela antiga escapadela para ir ao banheiro - "Estamos fora do ar por problemas técnicos" -, agora faz-se ali mesmo, ao vivo. Se falta qualidade na tv, é total incompetência mesmo, desleixo, preguiça, uma vontade pelo medíocre, pelo certo, já testado e espremido até o bagaço.

Mesmo os programas vespertinos que colimam os mais pobres trazem os contrapontos e discordâncias apenas para no final brindarem-nos com a solução definitiva, talvez de um expert, ou, pior, da própria apresentadora. E quando ela anuncia o fim, começa a tocar a música de fundo e a próxima atração é informada, o telespectador já deve ter engolido a Moral que restou dos escombros dos holofotes e palmas.

No caso da Lúcia Leme, foi censura mesmo. Mas há a censura menos explícita, é só ignorar, dar rabanada e fingir que não é com ele. Quando o cidadão invade a tribuna dos advogados para ameaçar os ministros do STF gritando: "Aí só tem ladrão", prendem-no como demente. Mas se for para ficar nú na Bienal (institucionalizado), então é arte, não é Gullar? Ah, o mundo das artes visuais detesta, no fundo, o Gullar. Mas não se atrevem a dize-lo em altos brados. Estava passando na tv, outro dia, às 4h da manhã, o filme "Clube da Luta". Certamente algum gaiato (estagiário) de plantão, mas com ótimo espírito crítico, acionou o play.

Já os programas de polícia são a farsa do revoltado. Berram contra a desordem, os péssimos serviços, contra a leniência do poder público; dando voz aos reclamões de fila de supermercado ou banco. "É um absurdo, uma palhaçada! Um absurdo essa situação!!! " São quase sempre acusações gerais, sem alvo certo, ou quando têm remetente, eles dão um tempinho para resolver o problema pontual, dizem que vão voltar lá e tal. Não se espante ao vê-los abraçadinhos na foto de campanha ou na recepção mais chique.

Victor Meira disse...

A tevê é um funil irremediável. E o dono do funil só quer a mais pura groselha desse Brasil.

Ricardo, fala mais sobre esse lance aí do Gullar?

Ricardo Matos disse...

pesqueasy

Anônimo disse...

Ah, o Ferreira Gullar é fantástico, dispensemos comentários, meninos! ora ora ora

Victor Meira disse...

Hahaha, dois preguiçosos incomodam muito mais.

Pesqueasarey, muito grato.

Philippe Bacana disse...

partindo da iniciativa de interação, dizer PESQUEASY é muuuito bunda hein.

Philippe Bacana disse...

e o Gullar é mais bunda ainda.
bom poeta.
mas um bundão.

Anônimo disse...

"Bunda por bunda, bundalelê incomoda muito menos!
Espaços interativos são bons para se pesquisar mesmo e nada pronto, nada feito e acabou. Ideias e ideias mastigados de nada servem, somente para fechar cabeça e não ampliar pensamentos. O diálogo é feito de divergências. O Gullar diverge, por isso o considero bom (e não bunda, caso contrário não estaria onde está). Ele amplia e não fecha, faz pensar e não repetir. Espaços públicos são para opinar, ampliar e não para xingar quem quer que seja. Pesquisaremos, por que não? É tão fácil e bom."

Rod Britto disse...

Meninas e meninos, acalmem-se. Caso não, caso real esse desentendimento cultural, indesculpável, pediremos um horário à tarde na tv pra se sentarem de bunda; enfim, terem mais education no cara a cara com alguma apresentadora-professora, de cabelo feito tipo ferreira angular... Agora demos vez aos outros; o blog que segue com os dias e os escrivinhadores e os barbeiros. Sim, já comentamos os desafiadores e habilidosos poemas que anunciam se jogar no topo desta página pra lá de renovável? Não caiam de bunda por mostra das janelas paralelas, de vizinhos mexeriqueiros. Mas o que não pode, afinal, com todos abrindo janela para o ar de vão central da internet? Ventilação a sós. Aqui já deu. Deixemos que caia de uma vez a ficha - com o rosto do nosso autor de última leitura, rebaixado piso. E já o meio termo. Que se nos passem outras novidades. Modelos experimentais cheios de pensar. Liguei a chave e, sem bater, me mandei a la rod numa primeira barra de rolar...