28.6.10

o poeta

Antes de tudo, e muito envergonhado, desculpas imensas pelo atraso na postagem! Lancei meu livro neste final de semana aqui em Porto Alegre, mas isso não pode ser um motivo mesmo para o desleixo. Sinceros e intermináveis perdões.

Meu poema, então, vai falar de nós, ou do que acho que somos, do que acho que não somos. A depender da vaidade, nos coloquemos em uma ou outra categoria (natimorta) de poetas. Abraço, arte e luta!

o poeta

seu melhor verso nunca acha amparo
quanto mais cresce menos lhe comparam
passa ignorado pelo vozerio

tem por certo o destino deserdado
se por sorte criou-se entre empregadas
deixa em legado a sina para os filhos

quanto mais se aprimora se exprime
quanto mais sabe as obras ancestrais
mais sente que o fim é para o fim

− de capuz a ouvir os passos do algoz
nota o asco educado que o comprime
ao canto à linha ao longe além afora −

quanto maior o estro mais dos vermes
sepultado no corpo de seu gênio
que o difere de deus e dos mortais

quantos palmos são cem anos de terra
quantos cabem num côvado milenar
certamente é inversa a ordem que se impera

de igual lamento quantos abarrotam
lançamentos com autógrafos e vinho
e em pouco tempo servirão às traças

quantos em saraus oficiais em congressos
destrincham suas histórias pessoais
− ébrios no desejo da escolta às cegas −

serão praças bustos um evento anual de estudantes
ah! se calmantes janelas drogas avenidas
são o modo último e barato

de saber para que lado corre o laço
um segundo livro um terceiro uma nota de jornal
são dois coveiros excitados

retirando um palmo denso de sucesso
de cima da terra lá inerte desde sempre
deixando um rarefeito palmo de fracasso

Um comentário:

Heyk disse...

engraçado, não vi a oposição no texto. porque o trajeto é o mesmo. sendo reconhecido em vida e esquecido na morte ou viceversa. Escrever, lançar, encher os cornos.
vou falar mais.

ah, e claro. é um grande poema!