Nos últimos meses tenho tido contato com vários coletivos de diferentes esferas e percebi que um dos temas mais comuns abordados em discussões é o seguinte: Por que ser um coletivo? Mesmo que não saibamos descrever nosso motivo pessoal, nossa consciência acredita que é sempre bom estar entre pessoas com interesse comum, seja pela troca de conteúdo, seja pela diversidade cultural, seja para potencializar a divulgação. Infelizmente, o trabalho dos artistas tem se tornado cada vez mais individualista e, para suprir esse egoísmo criativo, tentamos criar uma casa, um coletivo que nos aproxime dos nossos iguais. Mas ainda falta algo.
Um coletivo que não pensa/discute temas colaborativamente é como uma galeria, onde os artistas ficam expostos individualmente - como é o nosso caso. Esse tipo de coletivo serve para potencializar a divulgação dos artistas que o compõe, mas nada é criado coletivamente, há a diversidade, mas não há a mistura, a cumplicidade criativa. O que quero dizer é muito parecido com o tema que o Heyk tem fomentado nos últimos tempos, colocando em questão a idéia de que os artistas não se leem. Não é meio cômico nos denominarmos um coletivo e não criarmos nada juntos? Pior, nem sabemos o que o nosso vizinho escreve. Dá pra entender a ligação?
O que temos é algo como um condomínio residencial de luxo, onde as casas gigantescas são construídas com janelas e vidros para que todos possam passar e reparar, invejar todo o nosso luxo interior. Encontro meu vizinho todos os dias e o cumprimento cordialmente. Se me perguntarem sobre seu trabalho, nada sei. Como podemos nos denominar um coletivo se nunca conversei com alguns dos meus vizinhos? Os coletivos, além de tudo isso, são uma forma de criarmos nossa própria democracia, que na maioria das vezes não funciona, mas serve de alimento para o sonho de conviver com as diferenças. Como podemos querer que nossa democracia funcione sem comunicação? Sem encontros? Sem desencontros? Utilizar o espaço de “comentários” é muito pobre. Muito.
Precisamos de um grupo no MSN, um grupo no email, um espaço de união e troca. Quero conversar com vocês, estou carente.
Perdão
-
Quisera ver-te em suplício
mas logo me dou conta
– e, de tudo, logo isso! –
que tu és eu.
Sou eu quem me amedronta.
Quisera acusar-te de tudo...
6 comentários:
Entendo sua angústia,volto com mais tempo pra falar algo que preste.
Beijo.
uma puta sacada. apesar de eu ser muito individualista (no sentido de que quando vou escrever, me isolo num canto só meu), mas seria uma experiência bem bacana trocar palavras e formar, de fato, um coletivo.
como temos aqui gente de vários cantos do país, uma boa saída seria separarmos dois dias pares do mês (dia 2 e dia 30, por exemplo) que teriam posts coletivos. os participantes do post poderiam ser escolhidos por sorteio. De repente, cada post teria de 3 a 5 participantes.
digamos que o escolhido pra começar um texto seja você, Tulio. aí o segundo foi o Victor, que continua o conto, passa pro Heyk, que passa pra mim, que passo pra Rachel. No fim das contas, teríamos, no mínimo, um choque de ideias complementares.
bom,
lá vamos nós.
o que o túlio disse acontece com todos os coletivos assim de internet mesmo, e boa parte dos físicos tbm.
Sabe quando vi a coisa diferente, e aí concordando de novo com o homem:
Quando arte/trabalho e vida são se distinguiam.
Quando escrevi o texto artistas e mendigos http://heykpimenta.blogspot.com/2009/03/artistas-e-mendigos.html
dei de algum jeito uma saída pra isso, sem querer: o tópico era: sem querer, nós viramos um coletivo: porquê? Porque nos encontrávamos pra nos ajudar em outras coisas, e junto com um sapato que trocávamos,uma camisa velha, acabava vindo um poema.
E aí ficou assim: os coletivos que se reúnem organicamente, que querem trocar algo mais do que vida profissional tem a possibilidade de construir mais afinidade profisisonal inclusive. Olha que viagem.
Outra questão, tulito, é que se colocar na ponta do lápis os afazeres desses canalhas todos aqui reunidos, e todos os interesses que eles tem para além dos afazeres que lhes se obriga, quanto tempo sobra? Quantos de nós será que tem, menos do que um coletivo orgânico como eu descrevi, menos que isso, mas amigos, ou namorados legais, ou família que funcione? É isso, a vida social tá fragmentada mesmo. Fora das obrigatoriedades tô conseguindo fazer pouco.
E é bem provável que esse batida sirva pra muitos de nós.
Mas ainda assim e contudo, carentes de todas as partes, uni-vos-mos!
proponha, gato. e as demandas, os dados estarão lançados.
porque somos um coletivo, aliás, o que nos faz acreditar que uma atitude conjunta seja de fato uma ATITUDE e CONJUNTA?
Muito interessante o exemplo do coletivo orgânico, acho que essas formas de coletivo fazem muito sentido.
Tenho um grupo no MSN que tem 800 pessoas na lista, todos que trabalham com arte de alguma forma. É muito interessante o que acontece, mesmo num meio capenga como msn. Discussões, pontos em comum, ajudas e extensão dos trabalhos, muita coisa se cria a partir desse encontro casual.
Eu não participo ativamente, quando tenho um tempinho dou uma lida na conversa e, se me interesso, entro na roda também.
E essa é a idéia, sabemos que existem pessoas que serão ativas e outras não, e isso diz muito sobre cada artista. Exatamente por ter outras coisas que fazer.
Um exemplo de coletividade seria utilizar o trabalho de colagem de frases que a Karina em outras cidades, de outras formas, mas gerando conteúdo coletivo para ser discutido aqui. Talvez até uma assinatura "Maná Zinabre".
O Bacana, que sempre faz uns desenhos, seria muito interessante para outros artistas do coletivo, assim por diante.
Manos e manas, vamos acender essa conversa pois é o mínimo que podemos fazer como membro desse espaço. Ampliem as idéias.
É, nos lemos pouco talvez. Mas essa pouca leitura é forte, bate com força. Desconfigura, quando nos dispomos, as nossas certezas (inclusive as certezas literárias). E é por meio dessa convivência de leituras, selecionadas sob a graça da brecha no dia, que criamos uma afinidade. É pouca, fina mesmo a linha que nos une num só coletivo. Mas ela existe.
Todo indivíduo aqui, por mais que insista em afirmar que possui infitas faces, tem algo muito forte que caracteriza a própria obra. Tem uma cara. E essa insistência martela nos outros membros, ecoa nos pensamentos dos vizinhos e, quando menos se espera, ressoa na obra do outro. Falo por mim.
Digo, não quero ser o cândido da discussão; mas a linha que nos une existe.
Se podemos engrossar essa linha e aumentar nossa intimidade criativa? Podemos, acho que pode ser uma coisa boa. Mas, sinceramente, tô confuso com essa angústia. Acho curiosa essa vontade de transformar um coletivo num organismo. Por que o coletivo é mesmo um agrupamento de indivíduos, sabe? Um cardume tem uma porrada de peixes, uma alcatéia, lobos, e uma vara, porcos. São seres individuais reunidos, agrupados. Ora, o que é o Maná então senão exatamente um agrupamento de artistas?
Tulio, não acho nada mal a idéia da criação de obras conjuntas. É uma ação de organismo - uma criação em que várias partes desempenham esforços e tarefas pra que o corpo inteiro funcione. Onde todos mexem no mesmo caldo, tirando e pondo, desconstruíndo num processo de alimentação, construíndo com parto. Se houver iniciativa, quero participar!
Mas como eu disse, não acredito que isso nos aproxime mais ainda de sermos um "verdadeiro" coletivo.
O Maná é um coletivo genuíno, vivo.
tá defendendo a cria, né, tranquêra!
concordo com os dois: sendo o que é, deixaremos para a história das ideias nos classificar. Agora, se quisermos nós mesmos nos classificar, é só fazê-lo.
Coletivo sempre seremos, quantos laços teremos que ter para ser esse ou aquele tipo de coletivo, aí vai da verve e unidade do grupo.
topo ações coletivas, físicas, presenciais.
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