O trio conjurava uma estrutura rítmica e melódica semelhante a um quebra-cabeça que, quando formado, mostraria um harém de portas abertas, pronto a me receber numa dimensão paralela, enraizada nos frangalhos da nossa realidade.
Tirei um livro da mochila ao ver entrar no saguão o Arqueiro. A banda fez uma pausa. Ele se sentou do meu lado e permaneceu, analisando.
- É o primeiro livro que você lê? - proferiu com timbre de contra-baixo.
- Não. Por que? - me ofendi. Eu lia muitos livros.
- Porque tá errado. É assim que se lê. - pegou o livro e indicou o modo correto.
Tomei o livro olhando pra ele atravessado. Me concentrei como pude e, num susto, luz insurgiu das páginas. As palavras faziam sentido agora, constelavam em torno de eixos compreensíveis. Como é que eu sequer conseguia ler antes? Não havia nenhuma confusão, não havia incógnitas, portas trancadas. Era tão óbvio. Será que todos sabiam disso? Seria eu o único que lia errado?
5 comentários:
é, parece a história com a pontuação da minha coluna...
rs! pena que não tenhamos um artigo seu.
O texto eh intrigante, com os elementos "o trio" e o misterioso Arqueiro, que ensina a ler.
A "ofensa" eh o ponto que me escancarou um sorriso, fiquei imaginando a cena.
interessante. engraçado que me peguei fazendo essa pergunta. será que leio certo? será que outros sabem disso? e me veio uma centena de imagens de qual seria esse jeito certo de ler e nao ter certeza de qual é a verdadeira me causou certo incomodo (rs).
abraços, meu rapaz. apareça sempre!
Um recorte, como uma cena que surge de repente diante dos olhos,como se pegasse as palvras já em andamento.Difere do usual dos teus outros textos postados aqui, mais extensos.
Mas mantém a caracteristica dos contornos indefinidos, possibilitando interpretacòes e leituras diversas.
Vc tem um estilo. Eu começo a ler e já sei que é seu. Sorrio.
Me ensina a ler certo? Rs.
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