Todo mês é mês. E acaba um pouco mais com a gente. Quantos meses será que tiram meses e quantos colocam meses na nossa vida? Acho que na média acabamos ficando infinitos.A preocupação com os coletivos é tema imensamente recorrente por aqui. Sabem, quando enviei para minha irmã, economista, o texto sobre coletivos artísticos que foi publicado no tabloide Atual em maio do ano passado, ela não conseguiu nem saber do que eu estava falando. Me perguntou, mas coletivos, de quê? Coletivo é um conceito que vocês usam para falar de pessoas que fazem arte? Ela não sendo nenhuma idiota, me fez pensar. Imaginei que ou ela era sim idiota ou que eu tinha é me descolado da realidade. E que as palavras que eu usava entre os meus para pensar e falar o mundo já não queriam dizer muita coisa às pessoas que passavam por mim todos os dias ou esbarravam, ou me conheciam. O velho assunto do público.Quando o Oiticica veio falar que não havia público, que a arte não era canal de mão única e sim relacional, e todos tantos outros falaram algo do tipo, deve ter causado alguma coisa naquele chão que tantos pisavam no momento. Talvez para muitos (e videm o caminho que as artes tomaram depois daí: vindo a ser sensitiva, sensacional, fenomenológica, afetiva) fazer artes nunca mais foi a mesma coisa.Mas pra minha irmã (to me sentindo o Max Geringer, colonista de mundo corporativo que sempre usa o filho, a vizinha, o colega como exemplo), nada daquilo fazia sentido, e diz ela que até gosta do que eu escrevo, até desconfia que seja bom o que eu faço, mas ela não se importa, não sente nada e aliás, sente, sente uma confusão enorme quando me lê. Pra ela, e pra minha mãe, pros caras que andam comigo no corredor da faculdade nada disso tudo tem sentido. Paramos de pegar o povo pelo pé, de encantá-los, de comovê-los, de fazer qualquer coisa com eles que não seja entediá-los e aborrecê-los. Isso brocha.Ontem no horóscopo que passou pelo bustv quando eu voltava pra casa depois do terceiro tempo de trabalho e faculdade dizia: aquariano, se conecte às pessoas que tem as mesmas ideias que você, isso lhe trará boas oportunidades. Olhem só. O horóscopo quer mais é que eu me aliene com os meus, ele não quer que eu me relacione em outras escalas, que eu abra o leque, que eu flane pelos mundos que não são meus. E aí? Me junto e me comunico? Me separo? Flano? Faço dicionários pra leigos entenderem de vocabulário de arte? Acho mesmo que o horóscopo é um corporativista de merda, e que ele quer ver o mundo compartimentado. Sem ninguém falar com ninguém sobre o que sente, todos perguntarão... ao horóscopo.
Perdão
-
Quisera ver-te em suplício
mas logo me dou conta
– e, de tudo, logo isso! –
que tu és eu.
Sou eu quem me amedronta.
Quisera acusar-te de tudo...
7 comentários:
caraca, e eu entrando no meu retorno de saturno este ano, mano. os astros não mentem, especialmente os holywoodianos, haja transparência, será que eles acham coletivos algo hype!(?) "nas viça e nas entranha"...
axé, rapáis!
PUTA TEXTO BOM, CARALHO!
Volto.
Então, os horóscopos são como os coletivos de arte?
Só nos juntamos com os nossos? Com quem pode pelo menos fingir que entende o que dizemos? No final a vida é arte, ou a arte imita a vida?
No Neoplasticismo, por exemplo, esse individualismo egocentrico dos artistas de nossa geração era sucumbido visando romper com o dualismo entre individual e coletivo. A idéia era levar a consciência do homem do individual para o universal...
Havia uma necessidade em transformar o conteúdo-forma;o caráter subjetivo não era tolido, respeitava-se a forma, o ritmo do "Eu",porém, rogava-se por uma busca pela qualidade universal das obras.
Talvez este flerte com as artes plásticas nos dê um alento para pensar melhor sobre nossas questões. Estudemos.
Um beijo
"aliás, sente, sente uma confusão enorme quando me lê"
e
"Paramos de pegar o povo pelo pé, de encantá-los, de comovê-los, de fazer qualquer coisa com eles que não seja entediá-los e aborrecê-los."
Brocha demais, cara.
Vamo pensar nisso então, já que o incômodo bateu. Outrora qualquer crítica que soltasse os cachorros no caos (ou na confusão) da obra era motivo pra taxar o crítico como um pensador limitado, ou preguiçoso. Mas se a arte é comunicação (que é característica imanente da expressão), porque insistimos na entropia como meio de abordagem sensorial?
Tenho, pra mim, que a poesia tem que encantar antes de surpreender.
Sobre a coisa-coletivo, redigo o que eu já disse na conversa do texto do Tulio: o Maná é um blog coletivo vivo, provavelmente como ele tem que ser. Existe uma virtualidade de trocas aqui, uma disponibilidade que convida à ágora - mesmo que uns poucos gatos pingados. E é essa a consistência desse espaço.
Sobre a vida, incito: busquemos o encanto, o sublime, o bonito. Esqueçamos (nem que seja por um tempo) o estilo, o novo, o ousado que fere.
Tenho um trio de cadernos que se reveza nos meus bolsos.Num deles, achei um treco interessante anotado:
Longino - o cara - coloca em primeiro plano no processo de criação artística o momento do entusiasmo: algo que anima o discurso poético de dentro para fora, e arrasta os ouvintes ou leitores ao êxtase.
Segundo a anotação, o sublime é o eco de uma grande alma, a expressão de grandes e nobres paixões.
"O Sublime é um efeito da arte, para cuja realização concorrem determinadas regras e que tem como fim a obtenção do prazer."
-
Assim acaba.
O Sublime é o efeito da arte que tem por finalidade o prazer.
Mas que beleza, mano, gostei pra cacete das anotações.
E esse sublime apraz tanto o artista quanto o contemplador.
Tô sempre atrás dele.
prazer, expressão, comunicação.
mas se entrarmos numa de não oferecer nada novo vai virar novela.
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