Meus irmãos zinabres, mês passado faltei com o meu compromisso e peço desculpas pela ausência. O poema que trago hoje fala sobre a mina Cerro Rico, na Bolívia.
Pulmones de Metal
em Cerro Rico
nas entranhas da terra
em total escuridão
a população
de vidas calejadas
cava seu próprio destino
escorrem veias de zinco
..............e o cobre dá cor ao desespero
tiram sangue de rochas
das pedras e mãos
dos artistas cegos
que esculpem até as vísceras
nos buracos
mais profundos
queimam marcas pelas paredes
marcas de fé
eles se denominam
Pulmones de Metal
o mais velho tem 42
quarenta e dois
.......................anos
o mais experiente
o sobrevivente
da exploração
o mais novo não fala
racha rocha na
busca de brilho
com um martelo
maior que sua cabeça
no íntimo do ventre materno
um imponente Theo
figura com seus cornos
e um enorme pinto
maior que jesus
ali noutro canto
Ele proverá riquezas
o álcool, puro
proverá coragem
a misericordiosa coca
proverá força
17 níveis de exploração
464 anos de exploração
exploração exploração
exploração exploração
exploração exploração
a folha amarga
na saliva
seca
vira suor, sangue
correntes
explosões
na escuridão
na boca
só um dente
................d’ouro
tamanha pobreza
.................d’alma
a coca continua sendo
o principal alimento
nas bocas vazias
ruminantes
Perdão
-
Quisera ver-te em suplício
mas logo me dou conta
– e, de tudo, logo isso! –
que tu és eu.
Sou eu quem me amedronta.
Quisera acusar-te de tudo...
6 comentários:
me gusta.
Fantástico! Me senti lá, como estivesse ao lado deles, abs
caráleo, outro dia eu tava pensando exatamente nisso..
e dizem que nas entranhas da montanha, no terceiro andar sub-solo alguém que não está acostumado já não aguenta mais, pelo calor e enxofre;
o poema é vívido nesse sentido, tá muito ótimo.
Opa....muito bem explicitado das entranhas e da montanha...
parabéns...
Malaspina pai...
Eu ADOREI essa, Tulio. Ela tem seu próprio tempo, respeita o próprio ritmo, e narra sem deixar de ser poesia. Aliás, documenta com festa, com denúncia e romance factual. E ela vai brilhando paulatinamente. Exploração, exploração. Bom demais.
Bom demais, mano.
É porrada.
Tô com o Pedro Gama: desci junto com a expedição, mina abaixo. E não dá pra passar do terceiro andar, é fato.
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