3.7.09

Azul

Eu não sou de usar
Palavra empolada pra me expressar
Prefiro fugir dos maneirismos mil
Do que tentar enfeitar o que não sei dizer
E eu que tinha medo de ser trivial
Agora só escrevo pra descalçar o mal
Aquele mal que outrora andara por aqui
Já nem vi, já correu, já partiu
Se for voltar, que seja amanhã ou depois,
Pois agora quero descansar
Quero uma volúpia casual, quero o mar
Um abraço de primo, comida de vó
Quero um "oi" e, talvez, o sexo
De uma donzela qualquer,
Pendões de vitória, ninfas de manhã,
Brisas fortuitas, maré cheia, fui embora
Sujei de humano o grande lago azul

Deixa soar a lira dos acasos
E o eco dos meus passos
Vai alcançar o horizonte azul
Deixa eu fitar o horizonte azul
Quero gozar o horizonte azul
E eu vou lá

Eu não sou de usar
Palavra empolada pra me expressar
Prefiro fugir dos maneirismos mil
Do que tentar enfeitar o que não sei dizer
Me cansei e já nem sei dizer
Por que há de ser o norte o sul?
Por que há de ser minha ânsia vã
Se acordei com minha voz sã?
O barulho escuro da chuva vai repousar

Deixa soar a lira dos acasos
E o eco dos meus passos
Vai alcançar o horizonte azul
Deixa eu fitar o horizonte azul
Quero gozar o horizonte azul
E eu vou lá

Quero me perder nesse azul
Quero me prender nesse azul
E eu vou lá.

5 comentários:

Chammé disse...

Curcino!

Deixa eu gozar esse comentário aqui.

Fio, o que mais me pega aqui é bem o começo desse poema. Penso direto nessa questão dos maneirismos mil na hora de escrever, e ainda fico em cima do muro: tem hora que o conteúdo sabe o que quer dizer, e a melhor maneira é contar ele logo, sem frescura. Mas tem vez que o conteúdo é uma foto na cabeça, por exemplo, e ai o maneirismo dá o ar da graça.

Mas ó, tem gente de bem que endossa teu ponto. Esses dias na Flip, vi o Lobo Antunes falar que temos que escrever mais no osso, sem adjetivo, nem adverbio de modo, e tirar tudo aquilo que não é faca (expressão essa de algum poema do João Cabral de Melo Neto).

Bença viu.

p.s: já vi, mais de uma vez, vc fazer refrão nos poemas. É um projeto pra por acorde neles depois?

Liz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Liz disse...

boas observações chammito! tem varios poemetes meus que eu faço com intençao de virar musica. e nao é que as vezes, dá?

ass.: Leo postando da casa da namorada.

tomazmusso disse...

muito bonito cara!! realmente parece música, tem até refrão... então, mistura o humano prático com o sensívelmente poético,a vontade de sentir no corpo uma felicidade. que calma boa! parabéns!

Victor Meira disse...

Mas é, olha só. Li há um tempo atrás e joguei umas pedras nesse Azul. Ainda entorto um pouco a boca para a ideologia da coisa: não gosto de limitar minha linguagem. O empolado e o pomposo são coisas boas, que não merecem desconfiança por parte do poeta.

Contudo, depois de um largo espaço de tempo, volto a ver o Azul, e acho que enxerguei coisas ótimas na poesia. A impressão na releitura foi refrescante - a poesia é como uma salada no verão -, e eu gostei disso. Também descobri versos bonitinhamente sinceros, como "Do que tentar enfeitar o que não sei dizer". Gosto desse verso.

E soa música mesmo, com as repetições. Merece uma melodia, viu?

Um abração!