4.3.09

Iguais

Vamos! Apenas me diga quem é você. Sem instintivamente dizer seu nome, idade, profissão. Ou mesmo sem dizer qualquer característica que te insira numa das gavetas hierarquicamente organizadas numa das estantes de madeira da dispensa.

Mas diga a verdade! Sem medo. Sem receio. Tente! Por quê não experimentar o novo? Você continua andando rápido pelas calçadas. Vira o rosto a quem se insinua ou olha para você com um sorriso. Contenta-se em ver o céu por trás dos edifícios. Reprime lucidez e foge de uma possível sensação de frio na barriga.

Você continua deduzindo os outros através de seus trajes.Você continua sendo honesto com todos, menos com si mesmo. Alimenta seus sonhos com papéis coloridos e bem impressos de revistas de direita. Economiza dinheiro para presentear a si mesmo, nos fins de ano. Joga sempre lixo no lixo, na tentativa de limpar sua consciência.

É de gente assim que o mundo globalizado precisa. Gente que aprendeu a viver aceitando seu lugar. Gente que paga o que recebe e sempre deve o que vai receber. Gente cuja maior qualidade é fazer o que mais abomina, com quem mais odeia, a qualquer hora, sorrindo. Mas ordens são ordens, não é?

Permaneça assim, já que não te incomoda. Continue como a mulher que escrevia cartas de amor para si mesma. Amontôo de palavras em círculos para se sentir um pouco melhor. Vamos, continue! Mas saiba que nada me faz mais infeliz do que aceitar isso. Continue caminhando. Continue fingindo sua felicidade. No fim, você é menos pior do que eu, que sabe onde estão os erros e continua errando.


Obs.: Peço desculpa aos companheiros pelo atraso no post, mas posso garantir que isso ocorreu por motivo maior.

9 comentários:

Victor Meira disse...

Brado forte, Leo. O começo me lembrou muito do Ultimo Tango em Paris. Mas aí o texto continua na voz do arguente.

Acho doidas algumas características dessa percepção sobre a libertação do indivíduo.

Primeiro, pensamos que a moralidade oprime a liberdade individual (e não só a social), e a figura que usamos quando queremos criticar alguém de cegueira é dizer que ela está presa em um código ético que anula seu ego e a transforma em um bicho irracional - pior do que aceitar a rotina, ela não enxerga a rotina. Mas então falamos de outra coisa. A expressão social dos desejos individuais não é a prática da liberdade individual, mas antes, da liberdade social(?).

Depois, propor a amoralidade e a transgressão como meios de se atingir A FELICIDADE? Ué, o objetivo é a FELICIDADE?

Vamo nessa. Isso pode ficar polêmico.

Abração, poeta!

tomazmusso disse...

o final salvou teu texto, trasformou-o em poesia o que antes seria um folhetim social e molde de algum tipo de indivíduo...é que a arte incorpora o erro no processo de criação. mandou bem!

Leo Curcino disse...

observação do tomazmusso me fez refletir. mas o final, foi realmente pra quebrar o clima de demagogia ou moralidade que o texto pode ter passado.

mas na verdade, o foco do texto é muito mais individual do que social. na verdade, não importa muito a sociedade e sim a felicidade(?) do eu-lírico! no fundo, é somente um texto egoísta e egocêntrico.

tomazmusso disse...

como existe espaço pra coments, vou ler de novo novamente, pensar e continuamos o papo...

Leo Curcino disse...

esteja a vontade hahaha. mas devo dizer que nao discordo do ponto de vista, pelo contrário, foi uma nova interpretação que me atentei.

abraço!

tomazmusso disse...

tá, vou dizer... é porque não costumo ver modelos assim, é difícil uma pessoa que seja só assim a ponto de ser só assim. mas sei que existe... então é válido. e o final é ótimo, realmente acho que aí está a poesia do texto, mesmo que o texto não seja uma poesia. Abração

tomazmusso disse...

po, li de novo! é uma puta cutucada.

Leo Curcino disse...

é uma cutucada em todos nós e nossos momentos de desânimo! (:

Carina disse...

nossa, me identifico com seu pensamento!
e penso q eu poderia ter escrito este texto, pois essa temática me é recorrente em pensamentos e conversas.
Congrats!