27.10.08

Revista Chute III - compartilhando a idéia

Ficou pronta nesse sábado, dia 18/10/2008 o terceiro número da revista proposta e editada pelo movimento Dulcynelândia - Revista Chute, e será lançada no 6º Chute, dia 02/11/2008, dia dos mortas, dia mexicano dos mortos, dia de festa.
Mantendo o formato do segundo número, a revista tem 32 páginas, xerocadas, capa de papelão pintada à stencil, formato 14x21cm e costura à barbante. O custo médio de produção por revista é de R$ 0,96 se descartados custos de corte, pintura e costura. Os autores publicados não são pagos e contribuem para e com a revista propondo obras sem restrição prévia. O conteúdo só é cortado se as contribuições ultrapassarem o número de páginas pré-estipulado, o que ainda não aconteceu.
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Vai aí um chorinho:

Um dia seremos abortados, Bruno Zagri, técnica mista. Publica em http://www.flickr.com/photos/brunozagri/

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Esse número é o primeiro coom alguma unidade de diagramação e design, posto que os trabalhos entregues o foram em sua maioria feitos digitalmente, diferente dos números I e II onde grande parte das páginas foi entregue pronta para ser colocada na matriz para xerox. Deu-se prioridade para uma diagramação limpa e pouco variada, aproximando-se o produto final mais com um livro do que com a revista quase interativa que é hoje padrão.
Integram seu conteúdo tirinhas, poemas, contos, micro ensaios, textos políticos e artes visuais de artistas de diversos estados do país.
Ainda não sabemos o fim da coisa, mas sobre ela bastanos para o agora vivê-la.
Fundamentos e outros do gênero foram escritos em http://revistachute.blogspot.com em agosto de 2008 e publicados na Revista Chute II sob o título de Saiba sobre e faça junto, acompanhe a conversa.

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E mais um. Conto publicado na Revista Chute III em primeira mão.

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Estou no Flamengo e de repente as palavras perdem significado, não sei mais o que significa "de repente", talvez por isso tenha começado o texto me localizando no espaço: "estou no Flamengo" e depois uma palavra da qual exprime uma sensação - a de não saber localizar-se no significado - "de repente". Talvez seja a fome. A mão tremida, uma leve cólica e as pernas cansadas. Eu tinha então exatos um real e cinquenta centavos, tentei sim me situar à minha fome estomacal e fome de lucidez. Apesar disso fui ao Cine Paissandu e não resisti: comprei um ingresso para a "A grande ilusão" de Jean Renoir. Por quê? Será mero estímulo consumista burguês? Confesso que assim que comprei o ingresso me arrependi, depois pensei: "foda-se". Também penso que é mais fácil que eu conheça alguém que me alimente, com cerveja e alma, que faça uma boa história. E... De qualquer forma, sou uma assalariada. A minha fome de arte é suicida, vai até onde o corpo aguenta. E é o último dia do Cine Paissandu. Talvez eu queira sentir um pouco daquele ar sessentista, tanto é que estou num restaurante vizinho onde a galera costumava beber. Ps: "estou" de corpo presente, sem consumir nada, apenas escrevendo este texto com devaneios de cheiros vindos da cozinha. A mão está mais ágil agora, como a de uma velha pensante. Então: tomei decisões difíceis, todo mundo toma. Sem elas eu não estaria aqui. A escrever, a divagar dentro do meu próprio vazio, a esperar por um filme, não sei mais o que é, só sei o existir. A questão é justamente essa: não há entendimento ou explicação [símbolo], há o existir? O viver dentro da gaiola da Liberdade, onde cedemos para ter nossos desejos existentes. Pensar que vamos saber, simplesmente porque temos uma linguagem desenvolvida... Não, ainda somos tão animais quanto o cachorro de Clarisse. E somos tão reflexos de reflexão que sentimos o ser, não mais como ilusão alienada, mas como responsabilidade, por vezes, vazio - a dita má-fé -, sempre, às vezes, é bom repetir velhos lemas. Não mais estou confusa. Não mais sinto angústia. Sinto cheiro de comida e lembro que não tomei banho hoje.
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Raísa Inocêncio, é de Fortaleza, radicada no Rio de Janeiro atualmente, estuda Filosofia e publica em http://opao.blogspot.com