19.11.07

ANTROTEMPORALÓGICO


...sem antítese
ela é curta e longa mesmo
a vida é feita de momento
e momento mais momento mais momento
fazem o todo
...........o todo é longo
só que o longo o todo não se
.............apresenta
.........................só na biografia póstuma
......então fica o momento
...............o momento um por vez
......................isso é curto e acaba
...........................................toda hora
........assim toda hora a vida acaba
..........ponteiro idiota
..............tinha que rodar pra trás
na diagonal

aliás
............pra quê tempo
....................isso é pergunta
.......nem ponteiro precisava
.............pra parar de contar a vida
...........................com ferro
............................................ com o plástico da
..................engrenagem do relógio digital
...........a vida tinha que ser contada
......................................via vinho
.
.................................
um cara só poderia morrer
.................depois de um milhão de taças
.
...........
cem mil seriam só a infância
.............eu seria só uma espécie
.............................de esperma secando do
.............................lado de fora
.............tomando vinho a conta gota
................e lambendo o céu de uva
...................................pra crescer
.
..................
e nos relógios tonéis de
...........................quarenta metros de altura
...........ir fundo
......................sem prender a respiração
................até ficar roxo de
.
...................................
vida

6 comentários:

Anônimo disse...

A vida é uma antítese permanente. Não. Discordo da idéia. É mentira também que o momento acaba a cada instante. Toda hora tudo muda. Discordo novamente. Acredito no seguinte: se não tenho relógio, o tempo não existe. E se acaba o vinho na taça, sobra poesia pelos bares do Rio. Eu quero cerveja. E eu quero agora. Saudações, Heyk!

Carina Bentlin disse...

É momento + momento = um sentir e um lembrar, o pulsar.
Entender a vida = passagem pro sanatório
É simples, mas se vc pega seu revés...dá nó na massa cinzenta. Nessa castanha do Pará alojada no nosso crânio, o cérebro.


Mas é bonita, é bonita e é bonita. O momento, ainda, picadinho de vida. A vida não acaba a toda hora não, toma fôlego e levanta a todo instante, mas ñ chega a acabar, ñ chega a beijar o chão, poeta!
Nem quando o tempo de viver lhe é usurpado, ela tem fim: isso pros gnósticos, espíritas e pra quem lê o q alguém escreveu. Tudo fica, a vida continua sem sua matéria, como uma poeirinha.

É bom isso...Saber o q o outro entende da vida, deste respirar, do ver e sentir... a cada instante. Isso é tão vivo e cheio de cor, é cor soltando da aquarela pra dentro dos olhos...

Grande sacada gotejar ou esbaldar com vinho o seu poema... Li e reli, me embebedei...Ainda tô de ressaca, por isso volto neste botequim pra falar algo mais.


E tenho dito!
Bjs

Guila Sarmento disse...

Caramba Heyk, que lirismo você consegue alcançar, quando propõe o vinho como medida de tempo!! Estes versos foram muito bem acertados, são lindos!!
Eu concordo com você sim, o todo longo não há como vislumbrar (a não ser através da memória), e sim, o todo é feito de momento e momento e momento, e experimentamos de fato a vida nestes momentos, e isto para mim é maravilhoso, porque passado passou e futuro não chegou! Viva o presente! Somente o presente! A cada momento! Sem relógios! E o vinho é ele próprio excelente símbolo da vida que escorre e é apreciada de momento a momento!

Obrigado pelo poema!

Guila

Viviane de Sales disse...

Melhor, Guila! Obrigada por ser poeta!

Heyk disse...

isso aí foi uma vontade de não esculpir coisa nenhuma. o poema em papo reto.

o poema pra falar com o primeiro que passar na rua.

esse deveria ser o significado de poesia de rua, né guila?

poemas que a gente fala no meio da rua pras pessoas passando

Guila Sarmento disse...

é isso mesmo heyk, recados líricos ou simbólicos, recados rápidos e rasteiros...