13.8.10

Livro à bolonhesa

A biblioteca é o lugar que contém, por excelência, o maior acervo dos saberes da humanidade, desde Alexandre, o Grande. Conjuntura que foi ameaçada e substituída ainda século XX. De tanto conter, ficou realmente contido. E a biblioteca passou a ser um lugar vivo no que tange a quantidade de conhecimento, mas morto e amordaçado no que diz respeito aos usos deste. O silêncio e a disciplina exigidos nesse templo do saber aproximaram-no mais do ethos dos santos, parados nas suas estátuas, do que da alegria, displicência e surpreendimento, que naturalmente nascem do aprender e do compartilhar, características essas muito mais dignas de um templo de Dionísio – onde a dádiva se comemora dançando e cantando.
Com isso a biblioteca torna-se um refúgio para os que precisam de concentração, e uma cela abandonada por aqueles que buscam movimento e prazer. Sabe-se de que lado dessa partilha ficou a maioria dos jovens. E imagina-se, aliás, já podem ser até medidos, os resultados de uma sociedade que tem grande parcela de sua população feita de não leitores.
O livro não é formador de opinião ou fomentador de reflexão do cidadão comum. Ele deveria ser? As características que a sociedade contemporânea apresenta dão condições para que o livro seja um meio de comunicação, formação, informação, reflexão e ação? Indaga-se se a transformação de todas as coisas em produto para o consumo imediato; a descartabilidade que media a relação das pessoas com os objetos, com os conceitos e a própria relação das pessoas entre si; e a aparente necessidade de renovar e reciclar a informação em alta velocidade e em curto prazo podem, todas essas, prejudicar o livro, torná-lo inadequado ou obsoleto.
Esse é um chamado a uma iniciativa, modesta e nada messiânica, para trabalhar na e a biblioteca como um lugar de efervescência cultural, aproximando pessoas e livros, fazer com que elas, descontraidamente, os toquem, se familiarizem com eles. Essa é uma iniciativa para apagar o sobrenome Silêncio dessa instituição tão importante. Lugar de livro não é na prateleira e biblioteca é lugar de barulho.

2 comentários:

Caco Pontes disse...

na era do I-pad.

Victor Meira disse...

Fiquei confuso com a proposta, Heyk. Meio descrente, não sei. Não sei se efervecência tem a ver com barulho, sabe? Que a biblioteca tá morta de velha é verdade, acho que não há dúvidas. Aliás, o lugar contemporâneo de leitura (falo pelo que vivo e pelo que vejo) é o metrô, o banheiro e a cabeceira - momentos raros porque neles estamos completamente sozinhos. E a leitura é uma prática solitária mesmo, por isso questiono a proposta toda.

Me apedreje se eu tiver dito alguma groselha!