9.7.10

Dar a Suíte

Se você perguntar quem são eles, respondem: somos aqueles que serram seu coração com arcos. Uma fugata que toca em repeat na minha cabeça. As torres de energia se alimentam de nuvens, e em algum lugar delas moram todas as mensagens de texto de celular perdidas. Um jardim iluminado com radiação, bonito, sem dúvida. Mas as mensagens de texto respondem: hi, I'm afraid I wasn't able to deliver your message, remote host said: 550 #5.1.0 address rejected. Não, dizem os rapazes, não é isso que estão tocando. Um deles pergunta: quando você observa uma partida, qual é o máximo que dá para ver um objeto até ele virar uma mancha indissociável na paisagem? Do que é feito cada um desses nacos de tinta? E o bandônion dá seu sorriso torto. Eles esperam você tomar um fôlego, só para ouvir a resposta com mais carinho: a chuva é somente a consumação do drama. A tristeza, na verdade, é algo muito mais perene, é um dia inteiro que se formou nublado. No último encontro, por exemplo, não tinha nada de especial, era um chá de hortelã normal, nem as mesas, nem as mocinhas, muito menos aquela tevê digital que piscava na minha cara mostrava qualquer intimidade. Só no outro dia eu fui reparar que, de fato, havia um céu nublado cuidando da cena. Hoje eu já penso que naquela hora ela tinha um olhar resignado por algo que nunca saberia explicar. E a suíte termina curta, com um trecho que diz: a memória salva tudo em sépia. E é lógico que você não vai achar nada parecido mudando de canal.

3 comentários:

Victor Meira disse...

É tudo fenomenal nesse texto. Aliás, nessa suíte dodecafônica, nessa poesia linda cujo brilho está nas passagens entre os temas, e na simplicidade das frases (frases que podem ter aqui o conceito musical da palavra).

É impressionante, tô impressionado. Tem trechos de luz pura, cara. Vou soltar uns que me pegaram especialmente:

(...) Um jardim iluminado com radiação, bonito, sem dúvida. Mas as mensagens de texto respondem: hi, I'm afraid I wasn't able to deliver your message, remote host said: 550 #5.1.0 address rejected.(...)

(...) o bandônion dá seu sorriso torto.(...)

Se bem que aqui (nem sei porque) o verbo nesse presente jornalístico me incomodou. Fiquei pensando em "me deu" no lugar de "dá".

(...) No último encontro, por exemplo, não tinha nada de especial, era um chá de hortelã normal, nem as mesas, nem as mocinhas, muito menos aquela tevê digital que piscava na minha cara mostrava qualquer intimidade. Só no outro dia eu fui reparar que, de fato, havia um céu nublado cuidando da cena. (...)

A última frase eu nem preciso falar que é ótima. É arrebatadora, mata o texto de um jeito lindo.

Luz, cara. Texto lúcido! Música. Simplicidade nas unidades e surpresa nas sequências. Leria um livro inteiro assim, grandão, setecentas páginas.

Voa, Chammé!

Leo Curcino disse...

fudide, mano. fudide.

gostei, particularmente, deste trecho. "No último encontro, por exemplo, não tinha nada de especial, era um chá de hortelã normal, nem as mesas, nem as mocinhas, muito menos aquela tevê digital que piscava na minha cara mostrava qualquer intimidade. Só no outro dia eu fui reparar que, de fato, havia um céu nublado cuidando da cena."

Leo Curcino disse...

a propósito, saudade de ser seu dupla, rapeize. (: