1.4.10

Minha Santificação

Cheguei mutilado às portas de ouro.

- Vim buscar a recompensa.


Minha voz ecoou e o portal se abriu com leveza, revelando-me o deserto. Vi Babeloque cruzar o céu, nu com seus pés de pato, e fui em frente, rumo ao nada ou ao desconhecido que o tempo sempre impõe. Havia um monte ao norte.


Constatei então que o monte era um colossal besouro. Seus apêndices retraídos o reduziam a mera carcaça e me convidavam à escalada. Tão logo alcancei o topo vi Babeloque iluminado, pincelando em retoques uma fina cirrustratus.


Auspicioso, disse com a fala meio retardada, ainda imerso na tarefa:


- Núvens são meras imagens limitadas, como a pintura em tela.


- Ah, não. Acho que não.


Ele persistiu num retoque. Decidi esperar calado pra não romper a concentração do menino-deus.


- Ficou bom - concluiu.


- É maravilhoso.


Sorriu pra mim e pegou uma prancheta.


- Aqui, aqui e aqui. 


Assinei. Ele me ajudou a vestir a nuvem. Minhas feridas pararam de arder na medida em que se transformaram em símbolos eternos. Meu coração se clareou, e um tremendo halo luziu de meu corpo no nascimento da minha santificação.

3 comentários:

Leo Curcino disse...

caraleo, man! que lindo isso! sério. lindo! adorei principalmente esse final.

Lírica disse...

Quero esse céu!!!!!!!!!!!!!!

Heyk disse...

toVocê não só acertou no conto, óbvio, mas fez algo que me deixou feliz: babeloque. Esse cara, eu gosto muito dele. Acho que é o seu persongem que me interessa mais. Legal agora vê-lo como meninodeus também. Traga-os para outras histórias, crie sua própria mitologia, faça vis, babeloque, rosu, maro, outros, todos se conhecerem e entortarem juntos um mundo deles, um mundo seu. Tá na hora do romance.