15.2.10

Vigília indiscreta

360 graus de frincha para se admirar o paradoxo político municipal-estadual-global, e por aí vai ela...

Está pronto. Não, está quase. Mas descoberto, por mais das cortinas solenes governamentais. Madona é a Rainha do Rio. Por trás de tudo que já são os bastidores políticos, capacetes de espelho & prateados, tendas germinartísticas armadas de rápida convivência e demais suportáveis, ariscas, elásticas e renováveis, é Ela Lei, hey, silêncio, stop. Ela! A Mãe do Rio. Vem durando a tanto; espera-se mesmo que dure. Intenciona, cinquentona. Tenciona-nos. Com a Máscara da cidade, mas não a cara da cidade, senão seria demais claro – e proibido forçar a barra da saia agora comportada, varandona, sob risco de cair de vez, num mar de perigos, meio solto, meio povo, de cara à tapa mas lavada, de sem vez. Mas e a vez? Org. Ong. Opportunity! Porque só ela consegue o que consegue. Mas será? Porque será? Simple, people simple, I’m Ma-do-na. Afaste-se, por favor. Aqui está rezado, besuntado à clorofila pop respirável passando por mastigável. People of Mars. Está Interditado. Caution. Sim: Oh yes, carioca. Ela conseguiu. Conseguiu ela. Só ela. Milhões a mais de dúvidas pra nós, num fluxo-refluxo de espera pela Sua próxima Vez aqui. Ou a cidade dentro Dela. A nossa chance de perseguir não entendê-la... Apagão; pra nós; encaremos; falta de leite literário. Ou do melado da reza. The, Ups!, Hit certains. Interruptor, já é.

Madona, a Diva, dentre outras camisetas musicais, reserva às vezes em sua concorridíssima agenda (por Ela mesma, muito mais) uma ida aqui outra ali, lá, bem ao longe, distantíssima, acena e um Vale; viagens; negócios; filhos; cabala; amplificadores (estes monstros musculosos texanos); cabelos, pulinhos, pára-quedas, figurinos; agradecimentos locais; pacote de frases; atitudes; internet e pistões; verdade-mentiras; pistas, despista, caprichos, enfim. Vem, em 2008, e faz mega-show na cidade do Rio, no Maracanã, a preços altíssimos pelo que soube, numa produção que chega a faturar em uma única noite – da última vez de passagem com a turnê, não a política, mas a artística – mas aonde mesmo se separam estes conceitos ‘caídos’ sobre ela, seu corpo armado, duvidoso, certeiro e galopante, levando a todos, senão se confundem, numa folhinha a desvendar, nunca toda pronta? – não sei se milhão ou milhões de reais, na equação dos ganhos e despesas, mas muito, muito mesmo; afinal, mais de 25.000 ingressos vendidos de diferentes preços altos por cada pessoa – e não esquecer o show extra –, além de sua enorme produção do melhor que há no entertainment norte-americano-mundial e outros produtos. Quem foi nessa disse que foi um show de grandes proporções, cheio-cheio. Muitos fãs: que valeu muito a pena! Que tem a ver, quem quer saber ou não entende, criticamente, disso? Que ora! A performance já se mandou pra lá. O bichinho camundongo de estimação ou a flor revolta da estação; os filhos, a cabala, os cabelos, os pulinhos, na nossa bagagem pobre-fotográfica, culturrala, primeiro as damas, roleta, mão na bunda, mais um pouquinho, culturralo...

No entanto, ou na mesma, mais ou menos um ano depois, ela, Ma-do-Na, retorna, só que agora, mais ou menos também, posto que não desconfie (pecado), pra devolver todo o dinheiro, ou, pra provocar, diz que é mais, no entender pobre até aqui de sua Missão-Pessoal-MAMADONG. Mas se Ela, para tudo. Tira o apagão de cena e bota ele ligado na veia, brasilcoleira. O que tirou do povo carioca mais bem disposto a vê-la (ou ouvi-la?), que de certa forma (noutras social-formers) também vai para os impostos, quando não está sobrando para pagar as regalias alheias (metasóciopsicoquímicas), numa outra equação das bem pop sem regulamentação ou incidentes, mas ainda assim com saídas de emergência, agora volta tudo assegurado, também em Mandonachetes (e não do bolso da falsa loura, claro, de sua vasta imagem de orla e orelha, de quem ouvi algo dela, da orlona), para o povo carioca bem mais em desvantagem, socialmente, os pobres, através da entrada remansa de uma semana dela nos bolsos vasculhantes bem ricos daqui. Esse é o seu paradoxo, o da Mãe-Rainha. O motivo desta frincha. Ela leva de qualquer jeito. Arrecadar milhões, menos ou mais que o montante do ano anterior com o show, e recuá-los novamente; se menos, se mais, outros dinheiros, mas em se tratando de altas quantias, é algo sempre regulável, muito acima do que é pouco; é astronômico, bem polpudo; e quando já se é muito cheio, o que se pode mais fazer com isso, os pobres visuais e as boas vistas. Ela mama; rápida e sutilmente libera. É mais ou menos essa a da Madona. A Madona. Na parada. In parade. Por pouco tempo a dona do Rio.

No entanto, peculiaridade nossa, à margem do fenômeno de marés da material-girl, in special, o pior é que segundo o que nos passa a própria mídia em volta oficial, Madona, além de um filme que retrata o lado pobre de favela do Rio (o que parece tê-la comovido e a trazido feito coisa fragile, às pressas pra cá), não sabia quase nada daqui, além dos shows e os hotéis que fez e refez, que são os mesmos em qualquer lugar, dependendo dela. Nada da vida social influente do Rio. Dos poderosos. Dos ricaços. Dos televisores – ligados por compartimentos de toda folga, um brindezinho, desde que em carteiras e esposas separadas. Assim foi preciso Madona, Ela, Sim, para ligar os fios e que se conseguisse – foi dito ao menos – essas generosas quantias. Então, agradeçam também a eles, rodeadores. Ela apareceu sempre com as autoridades apoiando-se nela. Quem então poderia ter feito os contatos por ela, a facilitação moral, a escolta oficial, os elos, dada sua pouca estrutura política (a teórica, fruto de estudo preciso e precioso, conhecedor e fura-agendas, bolsos, que neste caso específico, é bem mais difícil do que o ponto prático, logo, em seguida, pra ontem, quando já chegada a hora certa, só bater retrato e apertar de mãos, na presteza do dever cívico, clic um bico, o mico)? Madona e seu desconhecimento de endereços e telefones (também os de São Paulo, e se faça menção aos políticos e aproximam aproveitadores também de lá), até então fora da cidade ou já nela, antes de vir pra cá? Quem a facilitou aqui em Sua parada nobre foi sua equipe, de reprováveis e educadíssimos gorilas texanos? Antes era (e é?), não batendo esses ovos, a nossa indisponibilidade política mesmo, ou, dá no mesmo, para conseguir algo longe de interesses, querer ao menos se esforçar, fazer pressão sem pés sublimes ou figurino exagerado, que beira o feio, o popularesco, a misturar demais as coisas, proibido, como os sorrisos brutamontes, amplificados. Aqui não se quer a autoridade fazendo sem qualquer festa de campanha e/ou revista de famosos, dá no mesmo. Madona, vale que já muito rica, subindo o morro, tira a Máscara e o que se vê é uma norte-americana insegura mas, a bem de pequenos mundinhos perto dela, positiva. Longe d’outros – e visto que político, ela o sabe, mudando apenas objetivos e realizações, vista-se já de vista, empalhe-se em revista, no aparecer e chegar junto, é a mesma coisa em qualquer lugar – longe deles, para ela, neste instante, pertinho do Rio, cair de uma laje de favela ou de uma varanda brilhante, enceradíssima, não tem muita diferença, numa causa dessas (como somente a deles). Jato, sim. 360 graus; cometemos as maiores indiscrições, por ela, pobrezinha, nossa prontidão inacabada. E quem também estiver de olhos mareados. Sim. A multiestrelar artista, caída por aqui, é um fator econômico nas águas da cidade. Mardona. Sim. Nós somos o Rio, encantador de ondas, malandro, brejeiro, com palmas de estandarte: Ela é o Mar, global, engolidora, sensível, mas no bom sentido, viceral. É uma maré de frente pro mar do fasano mas que de verdade não é e não será nunca do fasano, comentam-se outras palhinhas de humildade. Será povo, ainda povo, de novo. Madona é definitivamente um rodo no Rio. Mas também capaz de melhorar. Longe dali, daqui, de toda praça e apoteose...

E por se tratar de Máscara, ‘antes’ e ‘depois’ Dela, nos preparativos de passagem, ida e volta, sossego e revolta, 1º e 2º turno (turnês?) – não durante, mas sem o palco, e sim, durante Mãe Madona, vimos a pouco, que é sua expressão mais digna de foto despreparada, americaninha triste mas positiva, solidária, no gatilho, more surprise, o bom sentimento socorrista, de quem de outras formas esmaga o globo com seu leque, seu cap, umbrella, seus myths –, Madona acha que faz o que quer da cidade; mascara, emparelha, namora. Incentivam-na, de certa forma e sem impostos. E “vai” mesmo atrás dela, os daqui, o corpo de figurões, de políticos de toda espécie (mas com uma só raiz, se parece, me foge isso), agentes sociolóides, a gente toda da bandalha, hotéis da Barra, mini-recreios, filhotas, os até ali incruzáveis, também os recuperáveis, os Atores, os líderes, alguns outros querendo de volta sua moral perdida, logo ali, está ali, tente-se, com a imagem materna, bandeira liberal, se metendo atrás da popstar, querendo aparecer na foto, ou só isso pra falar durante dias, ela que vê isso quase sempre por onde passe, rodo no mundo, ray of life // o dinheiro que flutua, e ela instrumentando-o //, à frente de todas essas enganosas cifras da humanidade, desportistas. Nesse caso não chegam nem mesmo por instantes próximos à teta do prestígio, que, por aqui, poderia ser bem outro e mais simples, muito pelo contrário – todos os que trabalham ou tentam a coisa pública –, neste embaralhado social, se este o problema também, não necessariamente anônimos. Pra isso, daqui da vigia, acendo abusado farol. Os camundongos de foto. Obri-ga-do. Right.

Rio de memória no ato. Está pronto e descoberto. Foi-se. Se foi. Pausando, por ora, ou anos, Madona é um laço de flash nas nossas famílias sem tantas cobranças de justiça, uma grande família cultural, seria preciso ainda. E até antes da conclusão conflagrada de ordem e passinho, piso e patamar – via sorteio, aliança votante e sorrisinho – do Morro Dona Marta, agora obra política séria, demorável, nas alturas, longíssimo do mar. To be. Youtubeer. Mas ainda Ela, Ela pode. Madona. Em seu campo vasto, amálgama de ações bem pensadas anti-fogo e stress de staff; ser a mãe do menino Jesus é bem pouco, ela sorry. Cutucações à parte, estas que duramente entram num bondinho, ou uma intenção restando pra fora em meia-calça desfiada, projeto de subir. Ela agora é arrumadíssima, o que quiser usar com todos. Ser social na nossa vida. Que é também, ou primeiramente, a vida dela. Sobra ainda. Meias-calças em telões de cortina. Num lapso, silhueta musculosa. Foi ou não foi, afinal? Aconteceu ou não? Em todos os outros países e resto de súditos é com isso que Madona se protege. Nos mais contentes que precisam e sob os necessitados de espírito também, um a razão do outro, por vezes se descobre, emotivinha, bem longe das marés em Seu Nome, sem uma cobertura baixola do 7º andar, nas alturinhas pobres, assim-assim.

* Num produto de rápido consumo, sem essa canaleta pinguela vazada escritadinha, erradicaunha: Madona, um lubrificante aerossol de suas e nossas lágrimas, em idas e voltas. Por mal contribuinte, eu agora afogado nela, salvo uma canoa. Por mais realismo: apegado a um pedaço de isopor sujo oriundo do domingo no meio de marés de bonés de correntes de apitos. Hit: Chamo canoa o bairro crítico que quiser; e de japonês, Ela, o assento sem asseio que quiser. Desbocada. E lagrimagra. Daqui só vejo e canto o Má; Antonio Candido lavado no bolso...


RBD, reprise na grade de horários – 2009 – Rio de Janeiro / Brasil.

Nenhum comentário: