14.2.10

O sorriso de dente torto de ou(t)ro

Primeiro, entendam: escrever colunas é pensar em público. Mesmo que nesse caso o público seja ínfimo e desinteressado. Depois perdoem, escrever atrasado é parte desse pensar. Depois pensemos a respeito de nomenclaturas e classificações, batismos e rodopios do tipo: dando nome a um projeto, uma banda de um homem só, por exemplo engenheiros do hawaii, o que há? Há que todo tipo de egoísmo confundido com ou maquiado de altruísmo (ou ao menos coletivismo) aparece. Nesses casos o dono do nome coletivo pira e fala em nome do coletivo, quando na verdade fala por si. Diz buscar melhorias ao coletivo, à cena, ao trabalho de tantos, quando fala sozinho, sem representar ninguém, e logo fala de si. Nessa transferência de identidade, o pobre dono do nome outro que não é o seu, mas que é a si da mesma forma e exclusivamente, chega a valer-se da terceira pessoa pra falar do assunto, como um político ou o pelé, que fala sempre: o pelé é genial, fez mil gols, como se não estivesse falando da própria trajetória. Cuidado, quando formos falar de nós mesmos, é melhor falar em primeira pessoa, a doença do pelé é grave.

nada de representatividade, vim falar por mim, e por acaso, se algo do tipo coletivo aparecer, não represento, apresento, como um mc que chama ao palco algum comparsa para fazer um free style.

Nesse mês, coisas legais me vieram às mãos. Desde a última coluna, que tinha até nome, fui falar poesia em são Paulo, ganhei e comprei bons livros. De volta ao rio, fui à lançamentos literários e também pude ver algumas ideias nascentes. Os nomes são muitos, e por isso tentarei mostrar o que me chamou mais a atenção por categorias, no que seria um prêmio de cultura dado por mim, se eu pudesse dar algo.

Pra não esquecer que isso é carnaval – no que se refere à harmonia, o prêmio vai para a malocália, concebido e dirigido pela maloqueirista Caco. Foram, no sesc pompeia, mais de vinte artistas fazendo uma jam poéticoperformática durante quase duas horas, sem ninguém no público fazer cara de desinteresse, poesia popular apoteótica brasileira.

No quesito densidade literária, o sorriso de dente torto de ou(t)ro vai para... whisner fraga, que com o seu abismo poente, contemplado pelo proac, editado pela editora ficções tem me feito andar com o livro na mochila e mostrar aos amigos para ler trechos inteiros de uma prosa forte e imagética que eu nunca tinha visto com tanto transbordamento e angústia eloquente. Houve outros bons concorrentes, como o livro métodos extremos de sobrevivência de márcia bechara, editado pela Publisher (cheio de erros de português infelizmente – mas não foi por isso que ela levou o segundo lugar).

No quesito dar a cara à tapa (para aqueles que arrancaram dinheiro do bolso para fazer livros seus próprios livros), o sorrisão dourado vai para três pessoas, empatadas nariz a nariz: o poeta gracco oliveira, de diadema, com o seu refém das ideias; o multihomem heraldo bezerra hb, de duque de caxias, com o seu engenharia de aviãozinho, editado pela esteio; e a não iniciante, caso dos outros dois, beatriz bastos, do rio, que depois do seu triste e bonito pandora | fósforos de segurança, lança da ilha, pela pequena e caprichosíssima editacuja. Os títulos de hb e beatriz levam também o prêmio de objeto livro, por trazerem além muita poesia mesmo (em ramos diferentes da poética), trazem livros lindos e dignos de serem dados de presente sem embrulho, porque são já o seu próprio enfeite.

E o resto são especulações. Claro que outros mil fizeram coisas legais, inclusive nós todos, mas não estou nem aí pra nós. Vamos de carnaval e a necessidade de saber que o teórico, o artista e o político andam juntos pra tramar um assalto à igreja universal, distribuição de renda a pulso.

6 comentários:

Victor Meira disse...

Bela, nega. Olhada eu já dei nesses premiados-pelo-heyk aí. Queria lê-los agora.

Encontro?

tenorio disse...

Grande post, dinâmico, cheio de apontamentos. Vou atrás dos premiados tb!

Abração

Tenório

Beatriz disse...

Fala, Maná. Obrigada pelo prêmio! Adorei! e depois quero saber mais...e se aquele papo continua...

Como o pessoal dos comentários acima mostrou interesse pelo livro, podem me procurar, ou encontrar * Da Ilha * em algums livrarias (museu da república, arlequim no centro, livraria do cinema são luiz, casa da Cultura na rua real grandeza em botafogo)

beijos

Rachel Souza disse...

Nada de falr de si em terceira pessoa!rs
Li as coisas todas e já emiti minha opinião pra vosmicê... Gostei. Só esqueci, acho, de falar do cuidado da "editacuja" com o objeto livro.Tá no páreo com a Cosac.

Érica disse...

Oi! To por aqui pela primeira vez, convidada pela Bia, esta poeta que nos inspirou bastante... Sou editora da Editacuja e, já agradecendo o generoso comentário, digo que os livros de poesia são nosso grande prazer ;)
Se você quiser conhecer + dos outros trabalhos da gente tb: www.editacuja.com.br ou /noticias
Um beijo e um salve para a poesia!
Érica

Leo Curcino disse...

gostei da leitura de mundo. topo o assalto à igreja universal!