Na pedra um corte
veio aberto a dinamite
vaga -lumes tateiam as folhas
e os postes põem suas lâmpadas pra dormir.
A serra desce sobre o mar.
O vento venta na contramão dos meus olhos.
Não há fala.
Não há gente.
Tenho dois pés
que me levam por um caminho em que nunca passei.
Um cão me late hostil
adiante outro me abana o rabo.
Sobre o asfalto um caracol lança-se à sorte
se for seu dia chegará ao outro lado.
A noite não tem hora
não tem ponteiros.
A pedra transpira.
Há um breve momento
onde o corpo se desfaz
instante em que desato de mim.
Sou uma ave sobre um mourão
uma assombração aos olhos do passante
diante de um rochedo e de um mar que se move.
Amanhã
ao nascer do sol
não haverá o que há.
Será uma outra baía
um outro eu.
Tudo fica aqui
e passa
e passará.
Outubro de 2009
Perdão
-
Quisera ver-te em suplício
mas logo me dou conta
– e, de tudo, logo isso! –
que tu és eu.
Sou eu quem me amedronta.
Quisera acusar-te de tudo...
2 comentários:
um poema contemplativo e que, no mesmo momento em que saía do forno, já trazia um ar nostálgico. um clique exterior que atinge de imediato o interior e, ouso dizer, o interior de cada um dos diferentes leitores que o aborda.
feras linhas, um ótimo poema.
gostei disso. então que venham novos ventos, novos tempos, novas águas.
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