caixa alta, em busca de pânico ou aversão à ferramenta.
A barreira de aceitação à fotografia digital é bem compreensível; as primeiras câmeras sem filme surgiram na década de 80, e por aqui, acredita a memória, a popularização só rolou pela metade dos 90. E é inevitável: se você fotografa com uma câmera digital, um dia alguém vai perguntar se você trata as imagens.
Há quem tome por insulto, mas a miopia parece ignorar que a manipulação das imagens é, e sempre foi, parte do arsenal dos fotógrafos profissionais. Por exemplo, em VISUAL ACOUSTICS, Julius Shulman, atuante desde a década de 30 e dito o maior fotógrafo de arquitetura do mundo, explica como expôs o filme de forma que, além de captar perfeitamente a obra com ajuda de dois flashs, adicionou 5 minutos de exposição ao negativo quando as luzes estavam apagadas, para capturar o brilho das ruas ao fundo.
Para um exemplo contemporâneo, o artista chinês Li Wei utiliza de espelhos, cabos, e outras ferramentas analógicas para manipular suas fotos, criando obras como a abaixo - sem intervenção digital.
Assim como durante o processo de revelação é possível alterar quimicamente as cores, a granulação, e controlar a exposição em áreas precisas da imagem, na plataforma digital encontramos ferramentas que se assimilam aos antigos efeitos, e aumentam o controle sobre o resultado obtido. Já houve escolas antigas de fotografia que pregavam a utilização do crop, reinquadrando imagens através do corte da imagem. Não da pra crucificar quem faz isso atualmente, sob o estigma da digitalização dos meios, não é?
Abaixo apresento exemplo próprio, de porque utilizo o Photoshop. A primeira imagem é o JPG nativo da câmera, e a segunda é um arquivo RAW (NEF), que passa por programas como o da Adobe para leitura da informação. O JPG é um arquivo com compressão, com qualidade e tamanhos muito inferiores ao RAW; basta abrir ambas e comparar.
A informação contida na imagem, perceptível na mão e nos detalhes do instrumento, fica lavada na primeira. Já a segunda, que passou por um software e pela regulagem do fotógrafo, além de riqueza de detalhes, permitiu um afinamento das cores.
Não da pra confiar plenamente num instrumento que precisa de um humano para descobrir como é a cor branca.
3 comentários:
Vi o link nos recomendados do abujero e falei "MASSA, dia do joe".
Tava esperando, desde o meu retorno ao blog meu. E você tem razão.
Eu argumentava (não com esses exemplos) com uma amiga fotógrafa que utiliza o digital, mas não corrige os erros da fotografia, algo por aí.
Mas ela nunca me explicou por que o oitavo pecado capital seria a manipulação IN COMPUTADORIUM. Só porque eu sento na frente da máquina e mexo na foto pela tela de plasma é errado? E quando eu mexo na luz usando uma lâmpada e usando refletores, não? Acho uma besteira.
E falando nisso, tem aí o pacote adobe pra mac? haha, to precisando.
um beijo, outro, tchau.
;*
Bom demais, Jira!
Aliás, fodido o trampo do Li Wei. O site dele é animal, tem muita coisa boa.
Na escrita tem os que não se desvencilham do papel e caneta. Até botei isso em pauta aqui no Zinabre, no ano passado:
http://manazinabre.blogspot.com/2008/10/os-efeitos-do-blog-no-processo-criativo_30.html
A coisa é vital. Os processos mudam, e a obra final é formada durante esse processo. Eu mesmo faço dos dois, já que nem sempre tenho computador por perto. Mas quando tem, abro minha plataforma preferida (o bom e velho bloco de notas), e dá-lhe composição.
Faço apologia e defendo toda ferramenta que faz o artista se sentir melhor com sua obra, seja tecnologia nova ou instrumento de dez mil anos atrás.
As hipocrisias puritanas estão todas desfraldadas!
Haha, abração, mano!
Putz Jiró,
perdão meu sumiço por aqui.
Rapeize, linda essa discussão sobre fotografia. Faz pensar, muito. Talvez o desprezo ao digital acontece porque agora as máquinas tem um poder mais acurado sobre o processo, enquanto o homem dá mais ordens mesmo. Enquanto que no analógico o homem tem que montar o processo, e daí vem esse "ohhh", da labuta.
O exemplo é o próprio Li Wei. O fato dele montar analogicamente o cenário deixa a gente boquiaberto. O mesmo não acontece com o diretor de arte na agência (o computador que fez, sabe?)
E o ótimo do seu argumento é que "tudo é instrumento". Quem define o que é 'cor branca' é o artista, não a máquina.
Postar um comentário