quem dera
a inutilidade dos dias
o silêncio
a morte
a teimosia da vida
ignorando a tristeza
a inutilidade dos dias
o silêncio
a morte
a teimosia da vida
ignorando a tristeza
Meu pai tomou veneno de rato, enrolou a corda no pescoço e se matou.
Pra nós: só arroz.
Minha tia cansada do कासमेंतो, traiu meu tio com o vizinho, que deu o talento.
Se apaixonou.
Saiu de casa.
Desgraça é que nem banana, vem em penca. Apanhou na cara. Recebeu dois tiros na cabeça. Não morreu. Ficou triste.
Titio passou a ser freqüentador de boteco.
Meu irmão certinho que era conheceu a vida loca.
Eu conheci a pedra.
Minha mãe enlouqueceu.
De tudo que tínhamos um pouco, nada sobrou. Minha família deixou de ser.
Ficou osso.
Meu irmão se tornou periculoso, matou, roubou, estrupou…Tanto fez que mereceu, três tiros dados à gosto.
Foi pro saco.
Eu, bonitinha e rechonchudinha, fiquei só costela.
Rodei mais que nota de um real.
Engravidei. Enfiei citoteque garganta abaixo. Vagina acima. Mais do que o indicado. Minha vida passou por um fio.
O que não queria, era procriar.
Dar a vida é uma parada muito foda.
Tentei abortar diversas vezes.
Nenhuma deu certo.
O moleque nasceu. Perfeito. Dorme tranqüilo lá no berço, despreocupado. Tem a cara do meu irmão. Não o amo e quero matá-lo. Pode parecer mentira.
Chega de dar vida.
8 comentários:
Berimba, caso sério isso. Coisa boa, viu? Trise pra cacete, certeiro. Um cotidiano diariamente trágico. Tudo relevante, verossímil, real.
Ótimo, mano.
opa, é mesmo: tudo relevante, verossímil, real. e tem uma poesia aí rasgante, miserável e enorme.
texto latejante!
Concordo com os amigos! Tua prosa é muito certeira, Berimba, sempre! Tenho uma amiga da geração passada que vc devia ler, meu velho. Se trombarmos, te empresto o livro: Vilma Arêas. Muita força e arte, meu velho, grande texto!
Ui! Já viu "feios,sujos e malvados" do Etore scola?É mais ou menos o mesmo esquema, de uma podridão tão real,que parece mentira...
uau.
é uma boa comparação Rachelzita, apesar que feios, sujos e malvados ainda tem graça.
esse texto não.
muito bom, Berimba.
Tomei a liberdade:
http://blogpresenca.blogspot.com/2009/06/familiar.html#comments
Valeu, Berimba!
o que dizer?
nem tudo que ouço saio contando?
o texto ainda ta passando por um processo.
meu abraço a todos.
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