Lá vamos nós. De interessante, para esse mês tenho alguns babilaques a dizer. Por essa terça-feira, dia 10, estive na tv brasil, no atitude.com, fui debater cultura inútil. É isso mesmo. O tema do programa era cultura inútil. De convidados fomos eu; um figurão chamado Jone Brabo, que tem um programa de humor trash na tv a cabo; e um jornalista, Silvio Essinger, que escreveu o Almanaque anos 90 pela editora Agir.
.
A internet foi parte grande do debate, a questão da qualidade dos sites e das informações veiculadas foi carro-chefe. A qualidade, na acepção corriqueira do termo é juízo de valor, é igual dizer se é bom ou mau. E aí o que propus foi o seguinte, e coloco isso em debate aqui: para os nossos tempos precisamos substituir a palavra qualidade pelo composto afinidade com.
.
O assunto do programa foi como eu disse cultura inútil, e foi por aí que eu calquei a argumentação: Primeiro: antes de tudo, cultura é bem mais um modo relacional, um ferramental com o qual nos relacionamos com as coisas, com o mundo, conosco. Assim, não há como haver cultura inútil, posto que sendo gente, seja lá como, um cara usa a cultura dele para isso, para se relacionar. A cultura é a própria relação.
.
Segundo: Nos tempos em que consumo é a ordem: consuma. O modus operandi corrente não incentiva a reflexão, nem a invenção, coisas que a gente usa desde que se sabe para fugir do tédio e para viver com menos problemas. O modus operandi corrente incentiva a televisão e a rede mundial, duas ferramentas culturais que substituem a reflexão e a invenção em parte sob uma palavra: entretenimento.
.
O entretenimento acaba com o tédio. E quanto mais entretenimento menos reflexão. Mas a gente cria, tem vontade de aprender coisa nova, e aí liga a tv e descobre quantos dentes o ornitorrinco tem. Descobre quantos caras já pularam juntos de um precipício sem paraquedas, descobre tudo que não precisávamos descobrir e o repertório de absurdos e exóticos aumenta de forma inacreditável.
.
É problema? Talvez seja. É inútil? Talvez não. O entretenimento move não tenho idéia de quantos bilhões de dólares por ano. Mas e aí? É cultura de qualidade? Daí a proposta. Qualidade é qualidade, mas isso segundo quem?
.
(Exemplo) Faz anos que acompanho os debates sobre educação, e toda vez que a palavra qualidade é citada nos assuntos educacionais, todos concordam, fantástico. E nunca vi ninguém colocando um o que é isso? para essa qualidade que todos citam e todos concordam e se utilizam dela para defender e executar as propostas e planos mais sinistros.
.
Digo isso porque: O paradigma da utilidade, do utilitarismo, a ditadura do ponto de vista, as idéias de juízo de valor, as teorias europeizantes do mundo, tudo isso é século XIX. Para dominar a África, colonizar a Ásia tudo isso virou discurso corrente. Mas século XIX, gente, é para enterrar.
.
No meio do século passado é posto em cena o discurso da cultura ao diálogo, a relatividade, o relativismo, o multiculturalismo. O discurso da promoção da diversidade ganha força, é fraco ainda, o século XIX ainda tem força, mas teoricamente já foi superado.
.
E a democratização nos meios de comunicação (do consumo, não da produção dos conteúdos, tirando os últimos quinze anos) nos trouxeram de brinde: a cultura inútil, que sempre existiu, mas tem crescido e vai crescer (cago de medo que isso se torne o paradigma vigente, caramba, se isso vira estilo, no futuro os grandes escritores vão ser os escritores de auto-ajuda, credo).
.
Cultura inútil serve como documento histórico para saberem no futuro o que fazíamos no nosso dia-a-dia, serve para registrar a história da cultura, serve para ir ao cabeleireiro, mas quando a gente troca isso por discutir o mandato do Eduardo Paes, ou do Kassab, aí é perigoso.
.
Ah! e porque afinidade com? Porque caiu o discurso majoritário, gente. Caiu a idéia de que um sensor sábio vai falar o que é pra consumir. Falar que uma coisa tem qualidade é falar: gostei. É falar tive afinidade com ela. Tenho afinidade com a casa. Queridos e queridas, agora, delirem. Até mês que vem.
10 comentários:
Boa negó!
Isso aqui tem muita conversa com o penúltimo post do Entre Águas.
Ó, povo, é pra ver: http://heykpimenta.blogspot.com/2009/01/pausa-pro-puxo-de-orelha-ii.html
Inevitavelmente pensei na arte quando foi posto aí no texto o conflito QUALIDADE e AFINIDADE-COM. Se antes existia algum parâmetro que ditasse qualidade artística, agora não tem nada disso (, gente!). Arte é expressão, e é infinita, é possibilidade.
Conversa boa.
Abraçó, Heykó.
qndo li pensei em novas possibilidades de organizacao (nao sei se cabe essa palavra) que se pode ver no achamado underground. há sim opcoes alternativas de arte, entretenimento, 'cultura', o que for. com certeza nao é e acho que nunca foi de massa. devemos pensar em como podemos fazer outros tipos de cultura se massificarem. sei lá...
A conversa é boa Heyk, papo que rende, ontem aqui na torres a conversa passou por muito do que tá escrito aqui.
tudo ao mesmo tempo agora.
Um leque imenso de possibilidades, boas e ruins.
Entretenimento, passatempo...
muta coisa só na epiderme
Vamos marcar uma cuba e botar esse papo pra frente.até.
Hahaha é a pauta recorrente de minhas conversas com o Paulo (Gaja...). Tenho me entristecido profundamente com umas posturas que encontrei/encontro pelo caminho. Tá certo que a verdade é plural e o caminho da salvação mental é relativizar,relativizar e relativizar... Mas cansa,viu? Ah,depois a gente conversa melhor sobre isso. Tô marcando (assim,no gerúndio!rs) um churrasco de panela com Camarada e uma galera aí.Te aviso.
em tempos de cool-tura in-util, passando na porta do inferno, nem sempre desvia-se pro outro lado.
Muito bem, essa é casca! hauahuaua
Começo por concordar com a ideia de que nós devemos deixar a palavra "qualidade" de lado, já que essa é, por si só, pessoal e intransponível.
Durante a leitura do texto pensei muito sobre a cultura moderna, sobre Andy Warhol principalmente. Deixo claro aqui que não tenho afinidade com(funcionou bem) sua arte, e que não vejo outra utilidade para ela se não a reclicagem. Porem, ao observar o mundo em que vivemos, vejo que Andy foi realmente importante para o pensamento cultural de nossos companheiros modernos, visto que a quantidade de artes "non-sense" cresce a cada dia (MTV FDP!).
Se antes existia algum parâmetro de qualidade artística, esse era também opressor de tantas outras. Como a Raquel colocou, a verdade é plural. Assim, com a minimização dos espaço fisíco pela comunicação, os pequenos grupos outrora oprimidos criam seus núcleos e melhoram seu relacionamento como um todo.
Enfim, linkando com o puxão de orelha essa é, provavelmente, a democratização da cultura; micronúcleos de cultura. Qualquer cultura pois nenhuma é tão inútil que deva ser queimada na fogueira pelos tão iluminados artistas ditadores da QUALIDADE. Nem mesmo Andy ou big brother.
A conclusão é que a democratização da cultura não está no meio de comunicação em sí, e sim na possibilidade de todos poderem expressar sua própria cultura, sejá ela de massa (Big Brother) ou revolucionaria (feijoada e capoeira).
Grande abraço!!
Muito bem discutido, Heik. Pena mesmo que naquele programa de cultura inútil que é o da TVE, com aquela maníaca por improvisos fúteis que é a apresentadora, ou melhor, a climatizadora (coitada, ela é vítima do sistema, como todos nós, é rapidinha pra todas as coisas, e eu, menor ainda, dando uma crítica de blogg nela). Triste ou Resistente TVE? São as maneiras de refletir; poderia haver lá, como essas, aqui, sobre o texto inicial do Heik; torcemos gaiatos, sem sistema, poetas. Também um pouco pra isso os programas ali, bem intencionados que são, podiam aumentar em tempo e tamanho, como faz sem parar nas academias o nosso amigo supremo Roberto Reder (o Jonnhy Bravo, que não vi no programa, mas que já posso imaginar como esteja, musculosamente carinhoso, sempre; um lutador muito mais do que resisistente, por isso mesmo está não só na TVE e na Altentiva, como fazendo risadas de sábado na patroa Globo, comendo ela, programa ainda pago). No mais, a falta de Educação é bem por aí, como a acusada no texto pelo zinabrista Heik (zinabristas, nós, aqueles que estão sempre manobrando pra não dobrar ninguém, na maciota, no mérito dos argumentos pró e contra, livres, é tal, o blogg). Um abraço em todos os propositores, leitores e refletores, Rod Britto.
Bom, meus caros,
A questão é rude mesmo. E nem sempre clara.
O obama ganhou as eleições nos estados unidos pela internet, dizem. Pô, bem que a gente podia eleger o zé do Caixão, ou o Gugu pra algua coisa, né? Desculpem ter posto esses dois caras no mesmo patamar. não tem nada a ver.
Mas se o Obama ganha por causa da internet, porque não nós?
E dana-se o underground. Cultura indígena é under ground? Povo cigano é under ground? Se for, concordo: viva o underground!
Temos esse programa na tve, como disse o rod: puta que pariu, como é rápido e devagar ao mesmo tempo aquele programa. Os temas são jóia, às vezes rolam uns debates bons, mas na média a turma é desinformada e quase reproduz o senso-comum, só dá uma guaribada no senso-comum pra não parecer senso comum.
Essa é a questão. Os temas que são debatidos pela contemporaneidade são ótimos. O problema é pra onde desenbesta esse debate. Os argumentos usados nos debates de tema legal são argumentos de senso-comum.
E aí tá a merda: o que debater?: simples, como sempre debateremos o que nos apoquenta, o que nos incomoda, o que nos tira o sono.
ok.
Mas temos que debater num retorno constante às leituras, às experiências práticas e pessoais, e sempre: tentando o distanciamento da coisa:
Como brunoi cordeiro, gramsci também fala: o intelectual orgânico (do local , com formação local) pode não perceber o que está acontecendo, ele tem que estar sempre em confronto com linhas de pensamento, teóricas, religiosas, a porra toda, que não sejam as dele. Isso ajuda a olhar com distanciamento. Olhar de cima, olhar por outro lado, olhar com outros olhos.
Olhar com outros olhos. Surpreender-se com o cotidiano, pode ser ferramenta pra pensar o dia.
Danam-se os porões das boates.
Sabe que esse papo funciona mesmo?
Postar um comentário