5.1.09

O Pecado Original

Certamente não tinha inclinação para escritor. Tudo o qual descrevia era sem forma, sem peso, sem tato. O fazia como um adolescente que experimenta um entorpecente alcoólico pela primeira vez, desses que ao ver o mundo girar põe tudo pra fora num só momento de inspiração. Melhor que isso; lhe parecia uma análise psicológica, dessas bem Freudianas, onde não se pode sequer raciocinar durante o processo. Provavelmente acreditava que a arte era um tipo de milagre onde nós, símios, seriamos as ferramentas para dar-lhes vida. Talvez nem mesmo o próprio autor seria capaz de avaliar com precisão aquela monumental arte psicografada, somente um psicanalista poderia apreciar com plenitude tal arte. Arte para ele deveria ser intocada, imaculada; como a Virgem Maria. Dessas que você fecha os olhos e se propõe a desenhar um abacaxi e ao abrir os olhos e ver o resultado se depara com uma imagem de Jesus Cristo. Provavelmente uma imagem disforme e bem longe de um rosto humano, mas a coroa de espinhos poderia lhe atribuir tal semelhança. Poderia.

Certamente não tinha inclinação para pecador, quem sabe pastor.

4 comentários:

Heyk disse...

Lord Malaspina do Beirut,
Venho declarar minhas boas vindas. Que legal que essa bagunça tá funcionando.
Fiquei muito curioso com a presença das religiosidades no seu texto. Teve muito sentido para mim o abacaxi virando jesus e vice e versa. Isso por todos os aspectos estéticos e semânticos de jesus e do abacaxi. Uma coisa leva a outra desde o início dos tempos. Hehehehe.

Arte psicanalítica. Álcool. Sublimação. Busca do sagrado pela arte. Como isso faz sentido, né?

Vou pensar nisso tudo. Obrigado pelo toque. E ventos venham.

Victor Meira disse...

Irado, Tulipa! Viva a reflexão. Personagem muito doido esse seu, cuja obra é apreciada especialmente por psicanalistas, haha. No fim, ganha umas pinceladas de Nostradamus, ou sei lá o quê.

A reflexão é boa. A personagem é meio maluca. Ótimo!

Gostei.

Chammé disse...

Tulião, li e não consegui comentar de primeira. Conforme acompanhava a descrição do suposto escritor, mais eu me via nele. Essa questão de fechar o olho e esperar que a arte saia bruta e pura é bem utópico mesmo. E por ser mirim na arte de contar histórias, me senti pego com a boca na botija. Me senti pastor.

Me diga: comé que eu vou manter a qualidade destes primeiros posts? Durezi, viu.

Lírica disse...

Túlio, muito louco se enebriar de arte!
Interessante refletir sobre sensações, ou seja, fazer a arte se encontrar com a psicanálise e sintetizar tudo na mais inusitada analogia "frugi-cristã".
Bem que Ele ( Jesus) disse de si mesmo: "Eu sou tudo em todos e para sempre". Se Ele é essa argamassa que une abacaxis a divindades, vc captou a essência. Do quê? Bem, pra o pastor, a essência de Deus, pra o escritor, a da arte... pra mim, pecadora, a essência da vida: a sabedoria.
Parabéns.