27.1.09

cartas de doações

{:::}

uma moça santa
me envolve
num romance
relembrar seus olhos
é ver de novo sua alma
feita de verdades
e misteriosas ligações


{:::}

na despedida
a chegada
com menos gente.

sem telefonemas.

longe de mais
para inventar
outro nascimento.


{:::}
p/ tiago mine e zé filho

acima de tudo,
é preciso ter
a primeira tacada nas mãos.
não fosse assim,
no labor diário
com o mesmo fôlego
o ano inteiro,
não se seria
torneiras salva-vidas
entre as rotinas.


{:::}


depois de coçar a cabeça
os pés, os olhos e as mãos,
sai de casa.


{:::}

entre a casa e o trabalho
a rotina constante
dos ônibus.


{:::}

escritos presos
não falam da solidão
tanto que nunca
deixaram de ser
lápis e papel.


{:::}
aos maloqueiristas

é chato de doer os múltiplos
clichês sobre a fraqueza
que primam objetividade
não se contando nos dias
os valores são descartáveis
a origem, a renda, a idade
e todo o processo do feitio
quando escapa da borda
orienta-se para não sair.

8 comentários:

Lírica disse...

Solapou-me, este poema. Fala-me das dores que me lembram outro poeta: "Nenhuma solidão está só". Só crendo nos mistérios. A rotina de que vivemos nos intoxica, nos dá pruridos e nos mata. E como não dirigimos nem o ônibus de nossos dias, só nos restam o lápis e o papel. E a primeira tacada, quem sabe?
Meus cumprimentos.

Victor Meira disse...

Berimbau, gosto demais, doido!

Volto pra falar bonito depois.

Victor Meira disse...

"depois de coçar a cabeça
os pés, os olhos e as mãos,
sai de casa."

e

"escritos presos
não falam da solidão
tanto que nunca
deixaram de ser
lápis e papel."
[v0|t0 nesse aqui dep0is;]

[0|ha, a quarta v0ga|, mais a décima segunda |etra d0 a|fabet0 de 26 |etras, 0 parêntese inicia| e 0 p0nt0 fina| estã0 quebrad0s aqui; P0rtant0, usarei caracteres substitut0s;]

Fic0 muit0 encantad0 c0m essa série de p0emet0s p0rque nã0 e|es têm pretens0es m0rais, sejam n0 f0rmat0 de "|iç0es fi|0s0´ficas" 0u n0 impu|s0 [tã0 c0mum entre 0s p0etas] de uma surpresa via subversã0;

P0ss0, antes, a|udir a f0t0grafia pra traçar uma c0mparaçã0: a f0t0 é uma verdade-c0mum, na medida em que um fat0 é uma verdade;

Diss0, dizem as b0as |ínguas que a p0esia está infinitamente mais pr0´xima das artes visuais d0 que quaisquer 0utr0s gêner0s artístic0s [inc|uind0 0 c0nt0, a n0ve|a, 0 épic0, 0 r0mance], e acredit0 que, dentr0 deste c0ntext0, a p0esia d0 Berimba tenha uma re|açã0 f0t0gráfica c0m 0 |eit0r;

A simp|icidade e 0 fat0 sã0 p0r si s0´ encantad0res;

V0|tand0 entã0 a0 p0nt0 supra|udid0: "escrit0s |ibert0s" deixam de ser "|ápis e pape|"?

Um abraç0 de tec|ad0 a|eijad0;

Victor Meira disse...

Dá pra ler?

Heyk disse...

berimba, bem vindo, gato.

victor, primeiro de tudo: parabéns pela tipografia.

berimba: o victor deu conta do recado. A despretensão galga posições érigosíssimas quando posta em prática.

Parabéns, amigo.

tomazmusso disse...

pra mim fica aquele fio da meada da arte, caramba, naum sabia que os dias eram tão cheios de poesia assim! bonito e co-movente, parabéns!

Anônimo disse...

valeu pelo prestigio gente.
tenho vcs no meu corãção.
sem palavras.
meu abraço a todos.

Isaac Frederico disse...

também gostei muito e me saltou mais o fato de tocar no ponto "solidão" em um momento perfeito dentro da estrutura do poema.