30.10.08

Circulação de Shows


Participar do Circulação está sendo incrível, apesar dos problemas de público e de estrutura de algumas cidades. A grana te instrumentaliza a realizar um show melhor e isso está indo além dos 6 shows do programa [realizamos apenas dois até agora, Rio Novo do Sul e Aracruz (foto acima)]. O Sol na Garganta pôde montar uma equipe, passamos de 10 pessoas, que tem estado junta também nos outros shows. Nosso trabalho cresceu para além do Edital.

Entretanto, o problema de divulgação é evidente. Não só pelo fato dos teatros estarem longe de lotados nos shows a fora; o burburinho na cidade é pequeno. O projeto tem um potencial incrível. É preciso trabalhar a construção de uma identidade, uma marca para um projeto tão ousado e grande. Isso precisa ser pensado, levado em conta, colocado na mesa para as próximas edições. Pela novidade é importante que sejam apontados os problemas, pois o público, acredito, é curioso e vai querer conferir sempre o que a caravana oferecer.

A divulgação não é de responsabilidade do grupo, a bola está com as prefeituras locais, que ficam incumbidas, em contra-partida ao investimento estadual, de lotar o teatro. Entretanto, o que percebi e tenho ouvido conversando com amigos de outros grupos contemplados, é que algumas dessas cidades estão desarticuladas, desmotivadas, sem compromisso. Talvez reste, ainda para esse ano, que a SECULT crie uma espécie de cartilha básica e um check-list de exigências para que as cidades sigam e a divulgação aconteça e as pessoas optem em ir ou não ir, e mesmo que prefiram ficar em casa ou girando na praça o façam sabendo que na cidade dela passou um projeto super-bacana com artistas que dão tudo de si.

Outro ponto que prejudica é a arrumação de um evento-atrás-do-outro no mesmo fim de semana. A maioria dessas cidades tem poucos atrativos culturais; talvez três ações ocupando o teatro no mesmo fim de semana seja muito repentino. Sendo a produção, estrutura, sonorização toda decentralizada (por conta de cada grupos) fica fácil agendar tudo em fins-de-semana separados, ocupando mais a agenda da cidade e o boca-a-boca poderia correr mais solto.

Outra sugestão, que surge nas conversas com outros contemplados, seria o de contratar uma produtora para visitar os locais, preparar conceitualmente e fisicamente as cidades, resolver alguns detalhes. Uma sugestão mais radical seria de contemplar uma empresa, por meio do mesmo pacote de Editais, para cuidar especificamente da promoção/divulgação por todo o ES. Essa produtora entraria com um plano de ações de divulgação, que seria avaliado e o projeto que se adequa aquele corpo de artistas daquele ano seria escolhido. A empresa receberia uma verba e para fazer o projeto acontecer, caminhando junto e dando suporte as prefeituras locais.

Vejo que o problema não está no interesse das pessoas das cidades do interior – como pode apontar um mais preconceituoso. O público tem se mostrado receptivo, mesmo para um trabalho mais experimental como o nosso. É só a divulgação ser planejada, porque todos chegam de coração aberto a fim de mostrar seu trabalho da melhor maneira possível para o maior público possível. E a receptividade ao nosso trabalho até agora tem sido muito boa, durante e depois dos shows – no bate papo de camarim e na cervejinha no bar.

Não só penso que o projeto precisa continuar como o defendo como política pública para além de qualquer governo; uma ação a ser exportada, copiada por outros governos. Penso que nosso papel, mesmo enquanto contemplado, seja o de dar algumas sugestões para que os próximos grupos contemplados aproveitem mais da potência do projeto. Sexta-feira embarcamos para Venda Nova com toda a empolgação!

FABRICIO NORONHA

publicado originalmenteee no Blog Garganta

2 comentários:

Guto Leite disse...

Bom ouvir estas palavras de quem está lidando com as coisas de dentro. Achei bem boas as idéias propostas e queria ter mais intimidade para propor também. Muita força e som, abraços.

Priscila Milanez disse...

Muito legal mesmo o projeto, apesar das lacunas apontadas pelo Fabrício. A gente sabe que o circuito artístico e cultural do nosso estado (ES) carece de muitas coisas, entre elas destaco problemas concernentes a divulgação - tb apontadas no texto.Imagino que no interior do estado isso também componha uma rede de problemas no que diz respeito ao incentivo a cena musical, teatral e de outras artes em geral.
O fabrício aponta bons caminhos pra resolução das lacunas nesse projeto específico. Mas que podem servir de base pra outras ações com o mesmo intuito de fomentar o cenário artístico do estado.