Mulher Infernal
É Noite. Está especialmente escuro, a casa deserta, eu sozinho, até ela chegar... Mesmo distante, pude senti-la abrindo a porta, deve ter dado três voltas na chave, ela sempre dá! Depois segue andando seus pés, provavelmente lindos, por toda a casa. Joga a bolsa e as coisas na cama, suponho, e nua fala ao telefone com alguém. Quem?!?!?! Não sei, mas percebo a volta das batidas, quase marteladas, no chão, bem acima de mim. Talvez deva ser essa a ordem das coisas, ela sempre por cima e eu, pobre diabo, por baixo. Capacho!
Estará ela ainda nua? Nua e de salto? Será? Isso a deixaria excessivamente pelada.
Vou até a geladeira, preciso me acalmar!! Pego o primeiro doce que vejo e como, ali mesmo, com a porta aberta. Percebo que está rançoso então agarro a garrafa com fúria, sentindo tudo, menos sede e bebo como se não o fizesse há semanas... E ela lá, flanando, por seu apartamento, dona da situação, martelando mais forte. O que deve fazer da vida além de me castigar?? Executiva?Atriz? Cantora? Dominatrix? Bem que meu mapa astral falou...Acima de você haverá o inferno!Pensei em desistir do apartamento. Qual a história que seu corpo conta? –Qualquer dia me declaro!Pensei delirante.
Mulher infernal a cravar seu salto, alto, nas baixezas da minha mente...
7 comentários:
Coisa linda esse conto! Demais. Trash? Nesse não, nem um pouco. Nada mesmo.
Muito legal, Rachel. Acho bem interessante a coisa da escritora-mulher assumindo o protagonismo masculino em primeira pessoa na prosa. Fala-se muito em balzaquianismos, chico-buarquismos, alma feminina, coisa e tal, mas a conversa da roda raramente pende pro outro lado.
O texto é superfície, tem cara de blog, é gostoso de ler e tem personalidade.
Bem bacana, Rachel.
Se livra dessa coisa de "trash" que não tem nada a ver com o que eu já li de você lá pelo café-pra-dois.
Bêjo!
Victor, o "trash" me foi atribuído, não escolhi...rs
Beijo.
Mas olha, esse é um ponto alto mesmo, victor. Ela escreve bastante até em alma masculina. Uma medium? Um escritor transformista? Incrível, né? E raro, não? Acho raro mesmo, fiquei tentando lembrar de outros casos, mas não lembrei. Por isso achei legal ressaltar o que disse mesmo.
Massa.
bjos pros dois contêros
Um conto que nos deixa(leitores)espaço pra vivenciarmos as cenas juntos. Visito todas as peças , lugares, partes do corpo desta rubra mulher e sua nudez nudíssima nos seus saltos, posso vê-la/ouvi-la atravessando a casa e o meu coração a mil pra essa imagem estonteante.
E este pobre diabo, capacho feliz, na sala esperando os saltinhos dela serem limpos sobre ele...
Heyk,
O "conto curto, enxuto", não tem relação direta com a falta de tempo ou a linguagem da internet, tem com o fato de eu não ter o exercício que os contistas de fato têm, que é o de ter a história e creiar um começo, meio e fim pra justificá-la. Quando escrevo não tenho a história, ela se desenvolve naturalmente, trabalho a linguagem e o resto vem.É a arte do jorro.
Inté mais vê cabrito!
Nossa, desceu escorregando e não saiu!
A mim soou essa coisa natural, que vai se desenrolando como se fosse eu mesma vivendo na realidade do conto.
parabéns
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