A rotina assassinava minha vontade. Desci as escadas do estúdio até a sala de refile. Sentei lá pra respirar um pouco sem a vigília constante das paredes do trabalho. Puxei uma revista, mas nem li. Fiquei olhando pra ela, e depois meu olho vagou pela superfície lúcida de tudo. Meu olho ardia um pouquinho. Eu ficava tentando capturar a poesia do vulgar, a beleza do ordinário, do regular. Às vezes tinha êxito, às vezes não. Aí tive uma idéia e me bateu uma vontade forte de fazer aquilo.
Voltei ao estúdio, e configurei uma marca de corte, com registro e barra de cores, para meu pulso. Desci novamente as escadas e fui até a impressora. Meti minha mão no rabo da impressora e com um choque rápido, a marca da impressão me foi tatuada conforme o configurado. Posicionei meu pulso na mesa de refile e com a outra mão empunhei um estilete novo, afiado.
Sem hesitar, cortei meu pulso, e dali jorraram alguns mililitros de café aguado.
Voltei ao estúdio, e configurei uma marca de corte, com registro e barra de cores, para meu pulso. Desci novamente as escadas e fui até a impressora. Meti minha mão no rabo da impressora e com um choque rápido, a marca da impressão me foi tatuada conforme o configurado. Posicionei meu pulso na mesa de refile e com a outra mão empunhei um estilete novo, afiado.
Sem hesitar, cortei meu pulso, e dali jorraram alguns mililitros de café aguado.
7 comentários:
Tá legal,
voltamos À boa safra.
Não aguentava mais café aguado, faz um mês que vem sem defeito.
Viva.
Achei a surpresa do café aguado fantástica.
e tudo tá bom, interessante a virada de um relato de escritório pra uma coisa descolada mesmo. primeiro a impressão depois o café aguado. viva a ficcão!
NEtão, tem um avanaço aí: um uso claro de uma construção popular de frase que não debandou pra infantilidade, papo de guri de apartamente, saca? Isso é bom. Vc faz mal a transição é agora fez super bem. Usou a conversa-de-escada muito bem.
Gostei também... há um certo "nada de nada" no primeiro parágrafo que vertigina em direção ao desfecho muito feliz! Talvez seja uma marca, e boa marca, essa simplicidade requintada de parte da prosa atual. Gostei bastante!
o victor sempre manda bem no sarcasmo. gosto; dou umas risadas boas.
só ñ sei se antes de cortar o pulso, a gente tenta "capturar poesia do vulgar"... sei lá, acho q o q paira é uma angústia só, q ñ dá pra objetivar com nada... então seria uma confusão verborrágica ininteligível, antes d cortar os pulsos... rsrsrsr
mas sempre bom o victor em prosa, é meu preferido. sinto-o mais livre, mais à vontade no espaço da prosa. gostoso d ler.
bjoca,
té!
boa, se antes de cortar os pulsos "seria uma confusão verborrágica ininteligível", seria um poema meu.
(conversinha besta auto-promotiva)
Nem sempre rola uma "confusão verborrágica" antes de cortar os pulsos. Pode rolar o que Victor expressou com maestria: uma deprê essencial, branca, desafetada. E nisso reside mais sarcasmo ainda. E requinte.
Victor, gostei do texto. Curto, bem escrito, esperto. Rápido. Um começo sem pegada (proposital?) e depois o vórtice-ataque por dentro. Pulsão sem freio. Puro ato.
Belíssima tatuagem suicida.
Quando a rotina assassina o desejo a gente tem umas reações cabotinas, mesmo.
Cha-pei tb. ;) nossa língua. O que pode? O que podemos nós? Dois prosadores? se prosa está pra poesia assim como o amor pra amizade (caetano), ai desculpe citar...mas não resisti.
CHA-PEI
Postar um comentário