5.4.08

Infância, um tipo de

Então aí eu escreveria uma coisa bem bonitinha, mas chega de beijos porque nasci de cólera.

Então eu nasci e minha mãe gostava do John travolta.

Meu pai sempre curtiu led zeppelin e eu chorava quando brigava com meu irmão.

Minha mãe me apresentou a ópera tommy. meu pai chegava tarde do trabalho. Dizia que bebia porque tinha que puxar o saco do chefe.

Minha mãe jogava tarô e meu pai brincava de caratê comigo.

Eu tinha um playground com latas de lixo. Eu pintava de azul a parede e gritava que eu tinha um sino da liberdade. Eu não sabia quem era a liberdade por mais estranho que se possa falar nisso.

Eu tinha um amigo que queria ser o Lex Luthor. Eu nunca quis ser o Super-Homem. Mas confesso que já quis ter o cabelo dele. Eu me assumo: Comprava Gel.

No outro lado tinha uma mulher de bigode que varria a casa. Eu só a vi uma vez. Ela nunca sorria. Talvez porque tinha bigode.

No asfalto pintavam o He-man para as festas de fim de ano. Mais tarde tinha o Pepsinho e o amarelinho, mascotes da copa do mundo.

Tipo nove horas da manhã: vi silfo detrás da montanha que de lá vinha bala. Feria cadeira feria coragem, silfo dava luz. eu não sou mentiroso de seis anos.

Meu pai é comerciante, minha mãe, carioca.

não sei quem eu sou.



Daniel Bosi

3 comentários:

Heyk disse...

esse formato de texto lírico-autobiográfico-fantástico tem a haver com uns que eu fiz.

tá lá:
http://beijodesal.blogspot.com/2007/11/de-perto.html

esse é um exemplo claro mas tem outros.

Legal essa coisa de experimentar linguagem junto

bjo, Daniel

Isaac Frederico disse...

poooourra irado hehehe leve e agradável em sua dinâmica e a confusão de quem sabe que a confusão não é de forma alguma um estado indesejável da mente

Hanne Mendes disse...

Nostálgico!
Lembranças remotas de tempos idos agora inundam a minha mente...


Beijo