Recolho-me frente à chama insuficiente
E arisca desta vela, o lúmen granzoal,
Imperador no atro arcabouço incomburente
Do asmático porão que me acolhe – e, demente,
Seco a testa, de uma febre insurrecional.
Lanço-me como um parvo ao tento irracional
De exilar de uma vez por todas a moente
Dúvida que me janta e noto, inaugural,
Empurrando-me, ultrajante, ao ato final,
A chuva que se precipita, consistente.
Que sangue espirro em tosse? Estou tuberculoso?
Que peste calcina minha saúde errática?
Que escrófula mina-me a defesa linfática
E traduz-se neste esforço assaz ominoso?
Que já tenho em simples respiração apática...
Revolto-me, amarguro-me em ódio nodoso
Inconformo mas, como um presságio tinhoso,
A vela – horror – responde: se apaga, enigmática.
Desespero-me ao inequívoco sinal,
Segundos grávidos de silêncio latente
E eis que o fogo, súbito, revive contente,
Ígneo permisso prum respiro inda normal.
(Recife, 27 de novembro de 2006 - poema do livreto "Madrigais" lançado em 2007 como homenagem aos poetas clássicos de nosso vernáculo)
Perdão
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Quisera ver-te em suplício
mas logo me dou conta
– e, de tudo, logo isso! –
que tu és eu.
Sou eu quem me amedronta.
Quisera acusar-te de tudo...
Um comentário:
A homenagem e o trato com a linguagem me levaram à uma taberna pra beber um bom vinho com Álvares de Azevedo.
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