13.7.10

Poeta de tiro curto

Gente, o poeta, editor e maloqueiro Berimba de Jesus, nos convidou para fazer prefácio (eu), orelha (caco pontes) e diagramação (victor meira) do livro do poeta e camelô Giovani Baffo, que será lançado na Flip. Aí segue a minha contribuição.

Poeta de tiro curto, Giovani Baffo é pop. Poderosamente pop. E popular, o que “não é o mesmo, mas é igual”. Pop porque congrega nos seus poemas os signos da cultura de massa brasileira, fala como um cidadão comum, com figuras conhecidas do cidadão comum. E introduz nos seus achados diários e trocadilhos, arroubos poéticos de grande teor de entorpecimento. Fala de novela e futebol, de carnaval, como quem os vive. E popular também, porque traz consigo uma tradição que não se data, a do pobre que na favela recebia doses diárias de universos fantásticos, crenças, lendas, homens que mastigam vidro, homens que comem gato, gente que viu saci, gente que pôs o marido pra dormir com o martelo, lugares e narrativas que aumentam o mundo, que o fazem ser mais fiel às possibilidades mágicas de existir.
Giovani faz desses pilares seu sistema de pensamento. Tem o camelô aqui, seja no tênis ou no livreto à queima roupa. Mas também tem o bandido charmoso, encantador de mulheres, o malandro na postura e na piada do poema. E disso, apresenta para nós desde um realismo socialista brechtiano com beleza (como em Aos ex-presidiários que abre o livro) até versos graves que poderiam ter saído do microfone do Mano Brown (Camburões vão às favelas, quase na porta de saída), construindo uma modalidade aguda e perspicaz da crítica social e a esse capitalismo tardio, que permeia todo o livro, seja com humor, amor ou dor.
As francesas, Naíma, Rachel, Maria, as moças da ladeira do convento, todas são perfeitas – se não são, ele acredita ser. Ele ama, como cowboy, em silêncio. Ama. Há uma reverência à figura feminina na obra, que constrói motivos no poeta e que deságuam à brasileira, na sensualidade do cinema nacional, no carnaval.
Perfeito é também o céu de Paraty, os mares no poema. O feio nas paisagens mágicas de Giovani está guardado para São Paulo. E foi lá que caiu de um, ou arranjou um sonho. Virou poeta de rua pelo exemplo de Renato Limão, Berimba de Jesus, Caco Pontes, Pedro Tostes. Preferiu um dia comprar um livreto a tomar uma cerveja a mais, e adoeceu-se para sempre dessa emergência fabulosa que é a poesia no mano-a-mano, numa calçada perto de você.
Já ele, o poeta, aqui não é perfeito, critica a si mesmo. A autocrítica, algum descontentamento, a busca de identidade, ou ao contrário, a autoexaltação, como faria um bom anti-herói (por exemplo em “Estátua de barro negro” ou “Máquina de abrir navalhas”), marcam no livro a cara que o poeta tem para si. Choraminga de uma ou outra condição mas sabe (sabemos): o precário é nosso charme.

Rio de Janeiro, 07 de julho de 2010

3 comentários:

Victor Meira disse...

O Baffo é o bicho!

Me pegou numa récita, com o do "o último a deitar apaga a lua".

Danado de bom!

Philippe Bacana disse...

"no brasil ou na china
a minha mãe é faixa
preta em faxina"

vai Giovani! vai Giovani!
vai Giovani! vai Giovani!

Rachel Souza disse...

Gooool... Do Giovani, o Baffo!!