23.7.10

Coma

Desculpe a demora, amigos, estava cuidando de um amigo.

Manteve-se em casa por três semanas, quase não saiu da alcova.
Talvez não houvesse explicação nem para ele; no quarto, a cama o sugava.
Formava-se um ataúde no leito.
Músculos atrofiados,
pele pendurada sobre os ossos,
olhos íntimos com a morte que infestava o ar de missa.

Janelas sem paisagem.
Iminente suicídio não percebido nos precedentes.

Por sorte, destino, ou briga da vida com a morte, dois amigos - que são por não poderem não ser - apareceram ante o fechamento de um livro e o tiraram de lá; carregado, vamos parceiro, um passo por vez, estamos chegando ao final da escada, alguns degraus mais...

Coma.
Silêncio na cidade para ouvir as palavras da médica. Depois da áspera espera por palavra de alívio... Coma.
Cada telefonema uma angústia, que não seja do hospital.
O cansaço beija o sono,
a manhã abre céu aberto,
o profundo torna-se superficial
e nesse caso isso é excelente.

Herança suicída e geração opaca,
o altar desse casamento não é aqui! Sumam!

Depois de alguns dias muda-se quadro e hipótese,
infecção. Por quê o coma? Por quê a burocracia é tão lenta?
O relógio estilhaçado na parede da espera.

O médico,
passa Semi-Deus,
a ansiedade não nos permite perguntar o que devemos...

E lembro de um olhar dizendo: - tudo vai dar certo.

Um comentário:

Isaac Frederico disse...

Achei narrativa carregada e talentosa, não induz uma relação do leitor com os personagens envolvidos, mas sim com o år catastrófico que se respira.