Daquelas águas que conforme os dias variavam suas cores
Verde
Vermelho
cinza, surgiam crinas, eram cabeças de éguas degoladas.
Porcos inchados, cães saciando a fome de urubus.
Cavalo morto atrapalhando o futebol dominical.
Susto de verão para banhistas
nos tempos em que suas areias eram invadidas por incontáveis guarda-sóis.
Mandalas reluzentes a beira-mar.
Jigogas.
Cobras de duas cabeças.
Minhas mãos revirando as surpresas trazidas depois da chuva.
Carrinho sem roda, boneco sem perna, espinha de bagre.
Baiacu sob o sol estufando até estourar.
Naquelas areias catei figurinhas de chiclete.
Roubei o doce da macumba pedindo respeitosa licença aos santos.
Lacei pombos pelos pés, os brancos valiam mais.
Um trocado no bolso
Champagne de reveillon virando ficha de fliperama.
Meu corpo estremecendo num mergulho de verão.
Era o bater das ondas misturado ao fremir das mãos.
Engravidando marés
Guerreei com amêndoas.
Vi um tubarão (depois descobri ser cação) pendurado numa árvore.
Tive pena dele, de bobeira veio se enrolar numa rede e foi morto a pauladas.
Fiquei um bom tempo sem entrar naquelas águas, medo de avistar barbatana.
Pequenas ondas
Hawaii de playmobil.
O barco de Iemanjá que carregamos pra casa e se tornou a nossa nau.
Trampolim pros mais acrobáticos mergulhos.
Siri no caniço, tainha no puçá, espada no arrastão.
Rabo de arraia chicoteando a memória.
No almoço uma fritada de marisco com limão.
Sem princesinha do mar, sem oceanos.
Naquelas águas escuras estão as minhas mais límpidas lembranças.
Praia da bica
da janela deste ônibus te vejo.
Penso no poeta Hart Crane e me lanço em tuas águas.
Onde tudo começa onde tudo termina.
Verde
Vermelho
cinza, surgiam crinas, eram cabeças de éguas degoladas.
Porcos inchados, cães saciando a fome de urubus.
Cavalo morto atrapalhando o futebol dominical.
Susto de verão para banhistas
nos tempos em que suas areias eram invadidas por incontáveis guarda-sóis.
Mandalas reluzentes a beira-mar.
Jigogas.
Cobras de duas cabeças.
Minhas mãos revirando as surpresas trazidas depois da chuva.
Carrinho sem roda, boneco sem perna, espinha de bagre.
Baiacu sob o sol estufando até estourar.
Naquelas areias catei figurinhas de chiclete.
Roubei o doce da macumba pedindo respeitosa licença aos santos.
Lacei pombos pelos pés, os brancos valiam mais.
Um trocado no bolso
Champagne de reveillon virando ficha de fliperama.
Meu corpo estremecendo num mergulho de verão.
Era o bater das ondas misturado ao fremir das mãos.
Engravidando marés
Guerreei com amêndoas.
Vi um tubarão (depois descobri ser cação) pendurado numa árvore.
Tive pena dele, de bobeira veio se enrolar numa rede e foi morto a pauladas.
Fiquei um bom tempo sem entrar naquelas águas, medo de avistar barbatana.
Pequenas ondas
Hawaii de playmobil.
O barco de Iemanjá que carregamos pra casa e se tornou a nossa nau.
Trampolim pros mais acrobáticos mergulhos.
Siri no caniço, tainha no puçá, espada no arrastão.
Rabo de arraia chicoteando a memória.
No almoço uma fritada de marisco com limão.
Sem princesinha do mar, sem oceanos.
Naquelas águas escuras estão as minhas mais límpidas lembranças.
Praia da bica
da janela deste ônibus te vejo.
Penso no poeta Hart Crane e me lanço em tuas águas.
Onde tudo começa onde tudo termina.
3 comentários:
um clássico, comparado em sua tez narrativa ao "portão de madeira", do já antigo livreto "sem persona".
o poema é detalhado sem ser chato, caminha por trilhas infinitas, em quantidade e na nostalgia que levanta.
fodão william, esse poema é top 5.
É lindo, poderoso. Me traz infância revivida de trauma e cara cheia.
Gostoso de ler, curioso, requintado. Muita imagem boa, ligada, amarrada num quadro grande.
Gosto demais, William.
que beleza, william, ainda mais porque já te ouvi contar uma parte das histórias que aqui viraram poema. que bonito. O poema recuerdo de infância e juventude é tão bonito sempre. parabéns pelo bicho, tá pronto.
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