21.5.09

as minhas parabólicas são apenas do meu olhar
tudo que vejo não é meu
apenas meus olhos podem tocar.
cidade- minha
não- minha
minha menos minha,
é de todos todas as luzes.
a favela se ergue
acima dos prédios escuros,
versos livres
coração preso
tomara que um dia melhore.
hoje tô tão blue
abandonado
não tenho dono nem preço
nem peço.
solitário
escrevendo sob a luz do prédio ao lado.
não consigo dormir
tudo o que está tão pouco está imenso
o vazio pesa tanto
e o um é tão pouco.
mas creio que tem salvação.
vou contar com a sorte?
de achar um tesouro embaixo daquele poste?
"o amor é tudo",
me disse alguém que não conheço mais.
mas minhas parabólicas não me abandonam
miram algum satélite
achado localizado no espaço,
vínculo invisível.
elas me olham mesmo de costas pra mim.
mais uma luz se apagou
no prédio em frente
não me imaginam
e o poeta adormeceu.
meu Deus! quantos eus!
e nem sabem de mim.
não tenho plano de saúde
nem carro nem tv nem dvd
nem um salário que preste
meus amores estão longe daqui
o que faço eu?
procurando agulha no palheiro
sem dinheiro
sem alguém
to igual ao cara de rua, abandonado.
um calor, um lençol
umas coxas, uns seios!
tudo tá distante
nada como antes
nada como depois
só hoje existe
e super frágil
em meio dessa cidade cinza azul vermelha,
toda minha infância retorna
em cheiros- imagens
isso é bom ou ruim?
ela não liga pra mim
ele também não
só o cristo
imóvel na janela mutante
voando como num abraço distante.
quantos amores pra trás?
clandestino no meu próprio país.
olhando a cidade que dorme
com certeza? alguém pensa em mim
nesse exato momento
remédio
pro mal que não tenho.
consegui uma senha e um emprego
de barman na lanchonete.
quantos olhos vazios!
de longe toca um blues
eu posso ouvir
parece vir
da luz daquele poste e dos milhões de fios nele.
a fumaça invade e não vale o que ela é!
minha janela tá aberta pro mundo
só que o mundo não entra no meu quarto
no meu quarto,
um quarto de mim.
o resto espalhado pelo mundo.
se fosse só a outra metade do outro lado da cidade...
mas nem isso.
hoje, no meu quarto,
durmo com o meu quarto,
com meu 1/4
do qual não posso fugir
e ele tá aqui, querendo fugir de mim.
eu grito
e todo mundo me ouve
abrem as janelas
quem é esse louco gritando por amor as quatro da manhã?
e quanto a outra metade?
quem vai conseguir dormir?
olho pros olhos da noite
brilhando com mercúrio nos olhos
imagino uma chuva de sonhos
e sonhos chovendo de amores.
agora dores indolores
cheiros inodoros
labirinto de cimento
tudo nesse momento.
o mundo é vasto
e a vida um fio
caudaloso rio só no interior
no interior do abrigo dos teus olhos
teus olhos de antes.
hoje: eu:
com partimento secreto.
meu avesso: de passados repleto.


rio, abril de 2007

3 comentários:

Tulio Malaspina disse...

Ae Tomaz!
Belo monólogo que travou nesse texto! De observações urbanas à convulções amorosas, no ritmo que só o pensamento atinge. É, o pensamento não é linear, não é plano. Nós é que somos planoscaretalineares e sacrificamos a originalidade em virtude de uma boa estética modal.
Gosto do texto, fala meu idioma.
abraços!!

Caco Pontes disse...

"sem pódio de chegada ou beijos de namorada"...

tomazmusso disse...

valeu Tulio, me fez gostar mais do poema.
Caco, adorei a pontuação.
eu particularmente, lendo agora, achei o poema profundo como um sonrisal; cê acha que vai explodir e no final é só umas borbulhinhas e pronto: não arde nem a garganta.
mas deixei ele assim mesmo pois o acho noturno, é como se fosse uma descrição descompromissada de uma paisagem. mas tá longe de ser um bom poema. a arte não aceita meias reboladas.
Abraços