13 Queridos Bandidos #5

Relativismo permissivo

Caceta, quarenta minutos de atraso e de praxe. Boas tardes às duplas caipiras.

O banheiro é que mudou. Eu tava cagando e escovando os dentes. Enquanto eu pensava em como ia limpar a bunda sem passar pasta ou achando que tava demorando demais e a espuma começou a queimar os cantinhos da boca, olhei pra parede.

Tinha três focos de luz no amareladinho da parede. Um vinha da lâmpada, outro pesquisei e achei o ângulo de reflexo, vinha da própria lâmpada refletida no espelho. Mas e o terceiro foco? Atrás do terceiro foco tive certeza de que o banheiro estava bem mais aceso. Meio brilhoso mesmo, quando o cabelo que é preto fica acinzentado por causa do brilho.

Não tinha nada de diferente. Tinha. Em cima da pia, além do descostumoso forninho para pequenas coisas, tinha um cinzeiro e um isqueiro. E proveniente desse mesmo movimento, fumaça. Mas na verdade não dava pra ver a fumaça, só sentir o cheiro de fumaça de cigarro. Aí tudo rimava, imagina, os descostumes eram o banheiro, o cinzeiro, o cheiro e o isqueiro.

Eu estava diante de uma surpresa fonética, de uma confabulação de letrinhas, quatro –eiro. E não sabia o que tinha a ver com o brilho. Mas o banheiro brilhava e eu tava gostando de sentir o banheiro brilhando. Levantei, isso depois de estabelecer uma série de relações lógicas pra não me lascar entre limpar a bunda e cuspir pasta no chão. E quando me olhei no espelho achei divertidíssimo tudo estar mais claro, visível, iluminado.

Saí do banheiro. Caramba. No lado de fora tava tudo mais brilhoso.