25.3.09

Ribeirão,pedras, águas e rodeios com ursos gigantes.

...............................................................................................................Aquarela s/papel, 2008.

Era um rio liso, mais que isso, parecia estreito e raso com suas águas de molhar canelas, mas era largo e profundo como um mar de ondas calmas. Com os dedos dos pés escrevia versos sobre as águas daquele córrego. Que tempo era aquele? Que tempo? E com a ajuda das pedras e das mãos de meus primos construíamos represas. Queríamos parar as águas, queríamos criar lagos, por algum tempo conseguíamos. Por pouco tempo. Depois as águas nos venciam. Então soltávamos nossos barcos de folhas e os deixávamos desabar pelas cachoeiras. Olhávamos nossas mãos, dedos de velhos enrugados. Ríamos.
Pelas pontes de troncos deitados voltávamos, cada qual trazendo sua história mirabolante. As contávamos ao chegar, os mais velhos riam e também nos contavam as suas; o suicida que se enforcou e bateu com a língua no chão, o cigano do rabo de cavalo (não dos cabelos compridos e presos abaixo da nuca, mas de cauda eqüina), e a que mais me fascinava, do urso gigante. Até então eu nunca conseguira vê-lo, sempre íamos embora antes dele aparecer.
Na festa de São João eu perguntava;
- E o urso?
- Ainda vai demorar, fica pra outro dia.
Me resignava pois o sono já era grande, e resmungava ao lembrar das três horas de caminhada que teria que enfrentar até chegarmos em casa, no caminho o urso gigante me acompanhava , pensava na sua cor, se era marrom, branco, preto...
Pensava: Como tinha ido parar um urso gigante no interior de Minas Gerais? Me diziam que tinha fugido do circo, desconfiava, pois nunca tinha visto um circo por aquelas bandas. Todo barulho vindo do mato me assustava, seria ele? Aí meus olhos iam se fechando, o sono chegava e de repente o tio Ilisteu me sacudia – Acorda menino, tá dormindo andando? Despertava, nesse momento já tinha esquecido do urso, provavelmente ele também já estaria dormindo. Aí era contar passo pra continuar acordado, assoviar pra chamar coruja (mas nunca nos atendiam) e ouvir histórias de lobisomem, até avistar a porteira torta e abrir um sorriso pro sono tão desejado, então me deitava no chão de terra batida da cozinha, e ficava a olhar os resquícios de brasa no fogão à lenha, e via na sombra que as chamas criavam um imenso urso, derrubando todos aqueles que o tentavam montar.

sem data.


Entre o vivido e o sonhado, o visto e o ouvido. Passeando por pontes de madeira sobre o rio dos dias, entre as margens de ontem e hoje. Recriando para não esquecer, mantendo vivo.

4 comentários:

Tulio Malaspina disse...

Gosto muito!!
Invenções, inversões!
O lúdico respira tranquilo...

Victor Meira disse...

É sensível seu cuidado com a memória das saudosas coisas fantásticas.

As lembranças são genuínas e bonitas, William.

Rachel Souza disse...

Sim, "recriando pra manter vivo".Gosto desse movimento, tem um gosto bom de fruta no quintal e cachorro amarrado com corda. Agora, Urso em Minas Gerais?rs Será q era obra do velho-do-saco?rs

Anônimo disse...

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