31.12.07

Isaac Frederico

É o seguinte: 2008 é outra história, no Maná, no dentro, no fora e no entorno. Pra isso como disse o autor, comecemos com "um tiro no conformismo". O Isaac é poeta. Faz rolar o senhor http://blogpresenca.blogspot.com junto de outros como William Galdino (poeta e artista plástico) e Renata Dantas (micro-contista dos presságios). Está pelo seu nono livro independente. O último deles, "Elementar", prestigiei o lançamento, cujo modelo de vendagem é de se exaltar - "traz mas uma gelada pra mesa, garçom!" E assim circula o verso. Inclusive nessa noite passou pelas mesas uma poema impresso em rascunho que acabou aparecendo cleptomaniacamente na minha casa, Yuri Gagarin. Traz ele pra gente, Issac. Pros zinabres tomarem tento de outros versos seus.
Não estou aqui pra explicar nada, Tome poesia. Aqui deixo "O nojo", inédito na forma impressa, sendo publicado em quase primeira mão pra gente.

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O nojo

E quando me canso
da enciclopédia de cumprimentos,
das rotinas estabelecidas,
niponicamente seguidas,
os hábitos que eu mesmo fiz

quando o caminho não mais é feito
de tijolos de ouro
e me deixo conformado
amargamente deitado
sob o sol de protocolos
onde, estático, me doiro

quando o bom-dia é peso-morto
lançado à revelia
nos peitos já sem resposta
dos pálidos colegas,
oitàscinco trajetórias
em escritórios glaciais

quando o cianureto não se faz
em cavalar tiro solucionático
mas de peça em cartaz,
pra todo sempre em cartaz,
em doses homeopáticas

e o orgasmo convulsivo,
outrora redentor,
passa sorrateiramente a ser
um mais-ou-menos prazer

aí então é fechado um ciclo,
o ciclo do nojo,
e ai de mim, irmãos,
não percebê-lo,
não acontecê-lo para, enfim,
renascer da abjeta lama,
o afiado mosqueteiro
trovador-fênix do eu a mim;

na esquerda o verbo,
na direita o rojão,
insolúvel como um anti
que se faz em paraíso
de mudança e levante.


(por, Issac Frederico em 07 de dezembro de 2007)

4 comentários:

Victor Meira disse...

É o nojo-nojo que os poetas resmungam como que a parte negativa dualisticamente - algo como o alterego - do pão de cada dia dos escritores.

Bacana. Acho que o apreço por parte dos poetas-irmãos por aqui no zinabre surge sempre dessa náusea que seu Sartre cantou há umas décadas atrás, e que é típica na experiência existencial de cada um... Rola uma simpatia por identificação, reconhecimento, saca?

Entre minhas composições, já mapeio o que é resmungo e o que não é. Quase classifico, mas isso já é meio herético... (num é? ê cacete)

Legal, Isaac. Resmungo agradável. O poema todo é um vagão só. Tá respirado, mas ousei relê-lo sob uma formatação pessoal, num só bloco, sem respirar. A experiência foi legal também, mas gosto da diagramação corrente.

Abraço todo!
E bêjo, nesse 2008 de inquietude.

Isaac Frederico disse...

agradecido pela resenha neste maná, heyk.
já vi que não faltam bons plantadores, porque as colheitas são sempre de alto nível.
abraços.

Heyk disse...

eu que tô inquieto com a debandada do blog.

Anônimo disse...

O Nojo tb lembra Kafka. É uma inquietude, mas parece ser tb uma aquiescência ao desencantamento que a maioria chama de maturidade... Feliz de quem tem o verbo-emético que alivia esse mal-estar. E arrojem-nos quantos rojões possam ser necessários para nos lançar ao infinito.
Parabéns, Isaac. Só de ter ressonantes corações em nossa órbita, alegro-me.