14.9.07


Jornalismo Popular

“Pimenta nos olhos dos outros é refresco”


A palavra "popular" pode ser usada para designar linhas editoriais distintas, indo desde o jornalismo comunitário, de bairro, os jornais de pequenos municípios, às publicações que, tirando partido da curiosidade sádica de algumas pessoas, lucram com a exposição da tragédia alheia. Mas, paralelo à distorção feita pelo comercial, jornalismo popular é um jornalismo comprometido com causas, temas, problemas e soluções mais próximas do cidadão comum, das associações de bairros, dos clubes de mães, das escolas, daqueles que não pode pagar por uma assessoria de imprensa ou subornar repórteres e editores para conseguir pautar na mídia temas do seu interesse. Aqui neste link vocês podem entender um pouco mais desta modalidade que anda desbancando a liderança de vendagem de jornais como O Estadão e a Folha.


3 comentários:

Heyk disse...

Vamos lá. Muito complicado discutir uma questão que para mim e não estou sozinho está para além das questões colocadas.
A matéria é bem redigida e cumpre bem o papel do papagaio jornalista que cita, cita, cita e não diz nada. E quando diz apela para valores desconectos e que geralmente ou são ultrapassados ou são irrefletidos.
O jornalismo popular se configurou como alternativa mesmo. E por um motivo que veio primeiro: ser o jornal mais barato da banca. Ele é popular a princípio de conversa pelo preço. Depois pelo formato, pelo tamanho da fonte e das imagens, pelo número de esquemas explicativos e informativos que se anexam às matérias. Depois vêm o conteúdo. Esse redigido muitos vezes por pessoas que ou convivem ou pesquisam o vocabulário do público alvo com um cuidado interessantíssimo. Alguns dias atrás no Rio de Janeiro vi um deles com a manchete: "Ele comandou o bonde dos porteiros e passou por cima do patrão". O crime, a tv, o futebol e o corpo de mulheres ou de classes baixas que estão tentando ser modelo ou que os leitores vêem todos os dias nas novelas são geralmente parte da primeira e última capa.
O jornalismo popular, se configurou útil. Útil mesmo. Com uma parte do conteúdo voltada - tirando a parte já citada sensacionalista, peito-bunda, bola-na-rede - para a prestação de serviços. Coisas como "cuidado, senhora! tá vindo gelo demais no frango" e outras do gêneros figuram suas páginas.
Antes fosse só isso. Como todo mídia que precisa de propaganda para se manter rodando, os jornais populares também tem que ter anunciantes. Dependendo do conteúdo do jornal, o anunciante não anuncia, não paga para seu produto aparecer no jornal. Logo, pensemos que, sendo o cidadão visto como popular, de faixas menos abastadas da população é quem é menos favorecidos pelo jogo do mercado mundial da divisão do trabalho, não esperemos que esses jornais venham a trazer qualquer tipo de informação que leve emancipação de pensamento ao seu leitor. Nem a ele nem a ninguém. Esse acho que é o ponto fundamental para pensarmos seu papel. O entretenimento que não flui além de um conhecimento desnecessário, ou como a matéria diz de "relevância relativa", leva ao leitor nada mais do que ele precisa para se manter na sua condição. Alertando à ele apenas o que seria ruim para o seu consumo, além de expô-lo a uma série de outras coisas consumíveis, que vão além de produtos, expô-lo ao que podemos chamar de idéias consumíveis.

Sem referências muito melhores do que às do próprio jornal popular e da tv, o leitor não têm parâmetro nenhum para analisar o que é abusivo e sensacionalista nos conteúdo dos impressos ou visuais que chegam até ele, bem menos tem referências para pensar de que ordem e de que tipo de pensamento procedem àquelas informações.
Por isso, em sentido contrário do que aponta a conclusão da matéria publicada no Canal da imprensa, acho de extrema ingenuidade acreditarmos que o leitor irá regular a mídia, ainda mais esse. O leitor popular. É a mídia quem regula o leitor. Essa relação é de dupla troca em casos muitos singulares na história da imprensa do nosso país. O caso do Jornal Notícias Populares, extinto Notícias Populares foi um deles. Inventando histórias fantásticas como a do 'bebê diabo' e outras que já faziam que sua vendagem despencasse, acabou falindo de vez quando mostrou uma criança que estava desaparecida sendo resgata morta, pelo pescoço, na primeira página do Notícias. O jornal fechou. Precisou disso tudo.

Carina Bentlin disse...

Quais valores estão ultrapassados? Conceitos comuns da imprensa como neutralidade, imparcialidade e equilíbrio - só para citar os básicos- se parecem ser ultrapassados, é porque a constância jornalística não consegue firma-lo diante da patronagem, da agenda privada e corporativa. É um problema, perceba que vivemos um fenômeno irreversível.

O conceito de Esfera Pública, por exemplo, é distante da realidade: a impressa deve fomentar a discussão, seguindo a necessidade pública. A população reflete e debate, após, cobra atitude do governo. Os governantes agem, a mídia checa... E assim por diante. Isso nunca aconteceu! Deveria funcionar como um círculo, infinito, sem interrupção, mas este círculo está “redondamente” equivocado. É mais uma teoria cor de rosa, a cor é bonita, mas dependendo do tom, não combina com nada!!!
As relações estão cada vez mais destruídas pela mídia. É a novela que vai pautar assunto, a ficção passa a fazer as vezes da esfera pública.

Mais um efeito aí nesta doideira, o efeito sanduíche (realidade/ficção – ficção/realidade). Os telejornais (“realidade”) se organiza como melodramas (ficção). Novelas se alimentam na realidade. O noticiário bebe na ficção e vice-versa, produzindo então um entendimento parcial.

Mas aí o jornalismo popular, é uma ferramenta interessante. Tendo que ele é bem mais simples, logo tem público, pois a nossa população não lê... Ele é feito para quem não tem costume de ler. Popular começando pelo preço mesmo. 0,50 centavos e vc compra um tablóidão recheado na banca. A semiótica dele também ajuda.

O jornalismo popular mesmo, seria aquele de bairro, comunitário, popular porque são do povo, Suas lutas e td mais. Doce ilusão. Isso que nada, a maioria dos populares, é espreme que saiu sangue mesmo, peito e bunda sim! Há, marginalizou...


Mas se o leitor não regular a mídia, quem vai? Se você não escolher por si próprio o que quer ver/escutar/ler, quem vai??? A própria mídia não se descute, não vai expor suas feridas. Essas fedem; torceríamos o nariz, o estomago “embrulharia”. Por isso que o 4º poder vai perpetuando.
Uma outra postura só pode ser cobrada pelo seu público. É uma questão cultural, enquanto o leitor continuar a absorver o que lhe é fornecido, o prelo continuará a manchar o papel de tinta ora! Vai concretizando (de concretar, cimento!)... Se a maioria das informações que a população recebe, é através da mídia, e se ela não quer que mude essa postura, ele nunca vai ter embasamento para questionar, é um sistema cruel, muito bem vindo para os barões da mídia, ficando triunfante ano a cada ano, e o cérebro aqui ó, cada vez mais maquinado, consumista, fútil, sem capacidade de criticar e analisar coerentemente.

Heyk disse...

Em alguma medida, não em todas, bingo! O circo tá aí é só colocar o nariz vermelho e sentar na sala. gente, não tem conversa o processo é redondo mesmo. Bom, falei ultrapassado todo esse discurso de que o povo controla, o povo só controla e intestino, mas até o intestino controla o povo. Então acho que é conversa para boi roncar gostoso. Mas vamos discutir mesmo. É o quarto poder.
Ah, e parabéns pela publicação no observatário da imprensa, você deve ter ficado feliz né? Caramba, você de nós é a que mais que merecendo eu acho.